“Se eu tivesse oito horas para derrubar uma árvore, passaria cinco delas amolando o meu machado.” Essa frase, atribuída a Abraham Lincoln, é constantemente citada em cursos de planejamento estratégico. Planejar não é uma atitude valorizada pelos seres humanos. A preferência pelo improviso e por ir vivendo, um dia após o outro, é tendência universal na vida dos indivíduos. Raros planejam de verdade o futuro e se preparam para contratempos.
Governos igualmente, quer por falta de atributos e competência, quer por descaso e afã de deixar sua marca em realizações imediatas, deixam passar o tempo atendendo apenas urgências e descuidando de importâncias. É mais vantajoso eleitoralmente inaugurar obras, úteis ou não, do que programar com antecedência estratégias de longo prazo, eficazes e fundamentais para garantir o futuro da população.
As tragédias que assolam o Planeta Terra são pontuais e logo a reconstrução do que foi destruído faz com que o mundo volte ao normal, restando apenas lamentações pelo ocorrido, raramente planos para que o fato não volte a se repetir. É assim, com terremotos, inundações, erupções vulcânicas, soterramentos em minas, e disputas entre povos e nações. O que interessa é a urgência em se voltar à normalidade. Após tragédias, a humanidade continua como se fosse infinita; como se o desmatamento desmensurado não cobrasse seu preço, ou o aquecimento global não passasse de uma alucinação desprovida de veracidade. As armas químicas, mísseis de longo alcance, governantes desvairados e perigosos são solenemente ignorados, em nome da rotina conhecida e de uma salutar indiferença. É mais fácil e cômodo negar a ciência, duvidar dos acontecimentos, das demonstrações da natureza, e cuidar apenas do consumismo, do lucro, do crescimento e da multiplicação dos povos.
Mas eis que de repente surge uma pandemia. Um breque no presente otimista e normal. E o mundo, claro, não se vê preparado para enfrentá-la. Diante de sua força, curva-se e expõe suas carências, desigualdades e ambições desenfreadas. Líderes, falsos líderes e o povo em geral esperneiam. Afinal, o mundo não pode parar. A volta à normalidade é um imperativo, uma exigência. A economia, as festas, as viagens, a ostentação, aglomerações, partidas de futebol têm que continuar. Evidentemente que o sustento das famílias é uma imposição, mas e se fosse uma guerra, possibilidade que não pode ser descartada diante do crescente armamento global e rivalidades inconciliáveis? Estamos nós preparados para as privações que nos seriam impostas diante de um conflito mundial ou de uma escassez acentuada de recursos naturais?
Vamos seguindo, sem muito indagar e como se não houvesse possibilidade de um amanhã diferente. Continuamos negligenciando o aumento populacional, o aquecimento global, a destruição da natureza e a desigualdade entre os povos. Só aceitamos a vida se ela for como ela é, ou como costumava ser até então.
Marcia Moreno Campos