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Dia do Meio Ambiente e a pandemia

Euseli dos Santos
Publicado em 04/06/2020 às 06:47Atualizado em 18/12/2022 às 06:50
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Para 2020, o tema escolhido pela ONU para celebrar o Dia do Meio Ambiente é a biodiversidade. Como acontece anualmente na semana do dia 5 de junho, líderes de todo mundo iriam se encontrar para uma semana de debates sobre a temática e seus impactos para o planeta, bem como apresentar resoluções para diminuir ou combater a problemática. Acredito sinceramente que questões globais devem ser tratadas seguindo certos protocolos. Em contrapartida, sabe-se que é muito blá-blá-blá e poucas ações práticas, infelizmente.

Independentemente se os eventos formais irão acontecer ou não, a grande ironia é que a pandemia, sem querer, está contribuindo (e muito) para a biodiversidade. Sem a hipocrisia das promessas vazias e das iniciativas meramente protocolares, a fauna e a flora estão regozijando da ausência em massa do bicho homem. Quando ele sai do protagonismo, bilhões de outras formas de vida retornam ao seu estado e dinâmica naturais. Durante um período – mesmo que breve –, o meio ambiente pode assumir seu papel de protagonista do ecossistema, no qual pertence e tem os mesmos direitos de viver em paz, sem interferências externas.

Desde que o vírus se tornou um alerta mundial, a natureza anda nos presenteando com belos cenários que há décadas (ou séculos?) não víamos. Os canais de Veneza de águas turvas e fedidas voltaram a ficar límpidos; até peixes foram avistados tomando seu habitat de volta. Os animais selvagens podem correr livremente pelas matas, sem o perigo iminente de serem abatidos por um caçador que está simplesmente praticando um hobby. Afinal, ele precisa mostrar sua virilidade para a sociedade, não é? Falando em práticas primitivas, que demonstram que o homem teima em falhar como espécie, as touradas também foram suspensas e elefantes foram libertos do cativeiro por falta de turistas, que “passeavam” neles.

Nas grandes metrópoles, como São Paulo, ouvi relatos de amigos sobre a nova aparência do céu, de um azul tão intenso, como nunca viram. O ineditismo das cenas é tão real, que fotos de pôr do sol se tornaram frequentes em grupos de redes sociais. A que ponto chegamos, humanidade?! Gerações e gerações de cidadãos sem saber o que é contemplar o céu límpido e admirando imagens do crepúsculo como se fosse algo extraordinário, quando era para ser o normal! A que ponto chegamos?!

Neste momento, a natureza pode ter um “suspiro”. Pelo menos em parte. Sei que ainda estão ocorrendo ações predatórias contra o meio ambiente. Aliás, seria muita ingenuidade pensar o contrário. Porque há tipos humanos que não se importam com a vida de ninguém, além do poder e dinheiro no bolso. Pior ainda é constatar que esta categoria ocupa altos cargos do poder público. São ególatras que fincaram seus pés na visão antropocêntrica do século XIV. Só que o centro do mundo não é a humanidade, e seres microscópicos como os vírus estão aí para provar. Temo pelo nosso futuro nas mãos de narcisos dos anos 2020. Eles são uma verdadeira ameaça ao planeta. Mas, como sou um otimista de nascença, creio sinceramente que dias melhores virão, assim como a natureza está regozijando, os próximos seremos nós. Espero que quando tudo isso passar, o meio ambiente continue apresentando seus espetáculos para nós, meros espectadores da sua grandiosidade. Deixo aqui minhas saudações à Mãe Natureza.

Euseli dos Santos

Advogado militante em Uberaba/OAB(MG) 64.700

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