ARTICULISTAS

Peste e guerra – As duas faces da moeda

Ilcéa Borba Marquez
Publicado em 27/05/2020 às 07:10Atualizado em 18/12/2022 às 06:39
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Esta situação excepcional de uma pandemia tem nos provocado desconcertante experiência desadaptativa. Fomos pegos de surpresa com o motivo e consequência do momento atual. De uma hora para outra, nosso mundo virou pelo avesso e experimentamos o inusitado e nunca antes sonhado – o isolamento social (lockdown).

A solução que encontramos foi buscar na história registros de experiências similares, visitando arquivos e edições antigas de jornais. Encontramos relatos no Arquivo Público Municipal de Uberaba de 1918 e edições de livros como “A Peste”, de Albert Camus. Se existe igualdade, existem também diferenças significativas. Aquela é verificada no caráter surpreendente tanto da peste quanto das guerras: as pessoas estão sempre desprevenidas para vivenciá-las. Quando estoura uma guerra elas dizem – não vai durar muito, seria estúpido! Mesmo sendo uma tolice, não há empecilho para sua duração.

A grande diferença entre as situações de peste e guerra já vividas e a atual pandemia verifica-se no tempo e forma do isolamento social; antes feito apenas com os infectados e a partir dos sintomas e óbitos desconhecidos verificados em cadeia, bem como a designação dos locais de isolamento para terapêutica apropriada; agora, antes mesmo do contágio, entramos todos em isolamento preventivo ao contágio. A repetição inesperada de sintomas e morte mostrou a todos a necessidade de ações curativas e preventivas de um possível alastramento mortífero. A doença e a morte tornaram o evento epidêmico real. A população viveu o inesperado das doenças e o medo generalizado do contágio.

Evidentemente, este mundo globalizado que vivemos ocasiona uma homogeneidade estonteante. Temos informações detalhadas dos fatos verificados na China em tempo real, bem como os sucessores acontecimentos dispersados pelo mundo gradual e rapidamente. A surpresa não é mais possível. Se não houver comunicação imediata, temos o resultado dos trabalhos de satélites ou mesmo dos Serviços de Inteligência que todos os países desenvolvem.

Nessa atual Pandemia entramos no colapso social a partir da fala respeitada dos nossos governantes e autoridades médicas locais e mundiais. A crença confiante do povo levou à adesão da Parada de Todos e de Tudo. Com o tempo, a percepção comum foi decepcionante: os governadores demonstravam chocantes objetivos e as autoridades falavam contraditoriamente. O flagelo é irreal como um sonho mau que vai passar. Mas, nem sempre ele passa, e, de um sonho mau em sonho mau, são os homens que passam, e os humanistas em primeiro lugar, pois não tomaram as suas precauções!

Ilcea Borba Marquez

Psicóloga e psicanalista

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