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Uma herança chamada COVID-19

Diomário Ferreira
Publicado em 06/04/2020 às 08:50Atualizado em 18/12/2022 às 05:26
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Em algum momento de sua vida já usou a frase?

“Era feliz e não sabia...”

Essa é uma declaração que nos acompanha o tempo todo.

O ato de mudar, mudar hábitos, de encararmos o novo sempre foi muito desafiador ao ser humano que utiliza de um automatismo comportamental na tentativa de economizar energia, já que pensar, traçar novas possibilidades gasta muita energia de raciocínio.

Isto explica por exemplo porque não queríamos parar de trabalhar e ficar em casa, e depois que paramos também não queríamos voltar ao trabalho.

Também explica outro fato conhecido como efeito manada. Quando algumas pessoas começam a fazer algo, as outras as seguem mesmo sem saber porque.

Sabe quando há um lugar cheio de pessoas e você quer saber o que está acontecendo e fica louco para estar lá também, mesmo não sabendo se o que acontece é bom ou ruim?

Outro fato interessante do comportamento humano é o instinto de autopreservação. Que está ligado a tudo isso. Economiza energia, vai no automático, onde a maioria das pessoas está indo deve ser o melhor lugar e etc.

Com o instinto de autopreservação ativado o foco na ameaça é prioridade, já que se vacilar já era.

Nesse momento que estamos vivendo no mundo, em que nos sentimos ameaçados, nosso instinto de autopreservação é ativado, sendo várias vezes aumentado pela massificação na transmissão de ameaças via redes sociais. E por isso se fala tanto em números de mortos, casos, falta de leitos e não em casos de sucesso e sobrevivência. O foco está em se preservar e tudo que pode (eu disse pode) ou tem potencial de ameaça fica ainda maior.

Nesse momento aparece um dos mais terríveis sentimentos atribuídos ao ser humano. A desesperança, o sentimento de impotência perante a alguma situação.

Aquele sentimento que toma conta de você durante um assalto a mão armada ou ao ficar sabendo que alguém querido faleceu...

A frase característica é: “Não pude fazer nada!”

E não para por aí. Em todo o mundo as patologias que mais cresceram foram males do emocional. Transtornos esses como ansiedade e depressão.

A ansiedade em si vem com angustia e medo. O medo de um perigo real, o fará ficar atento e pode protege-lo. No entanto o medo de um perigo potencial (algo que talvez possa acontecer) normalmente o impede de realizar algo, e aí vem a angustia (insegurança), que por vezes o leva ao sentimento de impotência, de não ser bom o suficiente, não conseguir fazer nada e então nada faz sentido. A DEPRESSÃO! E aí já não será “eu não pude fazer nada!”, mas “eu nunca faço nada que preste, não sirvo pra nada!” A desesperança toma conta e pode ter um desfecho catastrófico.

No mundo todo, nunca se vendeu tanto antidepressivo e anti ansiolítico.

O Brasil, é o quarto país do mundo em casos de depressão e o primeiro em casos de ansiedade.

Há uma grande insatisfação do ser.

Se você mora em uma cidade, encontra um amigo e ele te pergunta qual seu endereço, você consegue dizer qual é e até dar dicas de como chegar lá mais fácil. Não é assim?

Isso porque é preciso conhecer onde você mora.

No caso do ser humano todas as sensações anteriores se interiorizaram através de ameaças externas. Mas uma vez que entraram, para onde foram? Qual seu endereço?

Vivemos tão preocupados com nossas percepções externas que não paramos para nos conhecermos, conhecer o lugar onde moro, onde guardo minhas emoções, sonhos e frustações.

Lembra daquela frase?

“Era feliz e não sabia!”

Não sabemos, porque no momento em que está acontecendo, não conseguimos ver e muito menos valorizar. Só temos essa visão quando a situação, o momento se afasta!

Precisamos entender que esse momento da quarentena, é um momento onde não se pode sair, então entre! Se não pode sair, entre! Comece a conhecer o lugar onde você mora! Onde estão todas suas emoções.

Onde? Em que prateleira, gaveta ou armário você as guarda?

Aproveite para estar com você! E se essa pessoa não te agrada, comece hoje! Agora! Fazer algo para que você seja o maior orgulho da sua vida. Orgulhe-se de mostrar ao mundo o lugar onde você mora!

Olhe-se no espelho! Declare seu amor por você! Peça e dê o perdão! Abrace-se!

Orgulhe-se de você!

Saiba onde guarda em você essa pessoa maravilhosa que você é!

E que todos esses sentimentos e emoções estão dentro de você! São poderosíssimos, mas são menores que você.

Você é muito maior que qualquer sensação e pode determinar o que e como quer se sentir.

Então, convido você. Vamos dar um passeio?

“Se não dá pra sair... entre!”

Esse é o verdadeiro tesouro disponível para todos aqueles que o queiram.

Essa é a herança deixada para nós pelo COVID-19, o CORONAVIRUS.

Diomário Ferreira

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