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CORONAVIRUS OU CORONADOLAR?

Ilcéa Borba Marquez
Publicado em 01/04/2020 às 10:45Atualizado em 18/12/2022 às 05:19
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Esta é uma época que recordaremos com grande alívio quando passar, quando tivermos um distanciamento vivencial para uma clareza nos julgamentos, sem as deformações provenientes do colorido afetivo da atualidade. Vivemos, intensamente, devido a vários fatores: não somos especialistas e estes nos falam aspectos diversos e contraditórios, sentimo-nos num pequeno bote ao sabor de ondas e na expectativa de um tsunami, se a razão nos puxa para um lado, imediatamente somos arrastados para o medo e a angústia, toda manhã buscamos sinais positivos de saúde ou negativos de doença, e, assim passamos os dias na angústia expectante.

Talvez esta seja a nova guerra, uma guerra biológica ou química cujo inimigo agressor não se apresenta realmente. Sabemos seu nome, temos sua imagem, o perigo que representa, mas, não podemos nos defender com ações assertivas e fáceis. Ele pode estar nos espreitando ironicamente bem do nosso lado sem que saibamos, ou pode estar distante nos ignorando totalmente. Estes desconhecimentos configuram-se numa situação de alto risco letal e totalmente fora do nosso controle defensivo pessoal. A mídia repete constantemente o lavar as mãos, a higienização do espaço, o uso de mascaras protetoras, o isolamento social, o distanciamento efetivo, o uso de luvas, substâncias abrasivas e perigosas; mas, mesmo cumprindo todas estas regras não estamos seguros.

Também enfrentamos um desamparo real pela ausência do pessoal médico e de saúde ligados aos planos que duramente e durante todos os dias do ano sustentamos e, agora, em obediência a um pacto sinistro e atroz com os governantes suspendem seus atendimentos e saem de férias para sítios ou fazendas!.. Cabe às enfermeiras orientar os pacientes para não adoecerem e/ou necessitarem deles porque se retiraram dos seus compromissos! Isso é desumano, radical, antiético. Resta-nos os prontos-socorros e pronto-atendimentos públicos, ao mesmo tempo em que também somos orientados a não buscar ajuda nestes locais para a não ocupação da vaga de quem realmente necessite! Alguém tem esclarecimentos adequados?

De marionetes a esquecidos ou órfãos ingênuos o desamparo é real. Compreendemos estado de desamparo como situações vivenciais capazes de recolocar em cena o início da vida psíquica em que o recém-nascido está em total dependência daquele que cuida e pode aplacar qualquer necessidade - protótipo da situação traumática.

Ilcea Borba Marquez – psicóloga e psicanalista

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