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Virulências

Sem escapatória! Tornou-se inevitável falar sobre a nova epidemia que assola o mundo

Renato Muniz Barretto de Carvalho
Publicado em 21/03/2020 às 09:47Atualizado em 18/12/2022 às 05:06
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Sem escapatória! Tornou-se inevitável falar sobre a nova epidemia que assola o mundo. Só se fala nisso, e com razã é preciso falar, opinar, assumir uma posição, ainda que não seja um campeonato futebolístico. Mas, como acontece no Brasil, são 200 milhões de técnicos, altamente “entendidos”, “especialistas”, virologistas, infectologistas… É claro que tem a ignorância política, o descaso com o pensamento científico, as demandas relacionadas à falta de saneamento básico e as carências do sistema de saúde. Todo mundo sabe dessas coisas, mas muitos fazem questão de não fazer nada a respeito, sequer refletir. 

É preciso falar da pandemia relacionada ao novo coronavírus e à doença batizada de Covid-19. Não sei se começo falando de astrologia, religião, política ou ciência… Ei, onde entra a ciência nessa história? Ah, em qualquer lugar, já que certas autoridades deliciam-se misturando alhos com bugalhos… Deixa pra lá! Essa história de epidemias e pandemias acompanha o ser humano desde que nós descemos das árvores no paleolítico, ou antes! Doenças já existiam nessa época; minha avó dizia que pra adoecer, e morrer, bastava estar vivo!

Essa “constatação filosófica” não deve nos deixar perplexos ou desatinados. A questão é que doenças não são apenas fenômenos biológicos ou clínicos; antes de tudo, são fatos sociais. Afetam a história, a economia e os próprios rumos da humanidade.

Quantas doenças as sociedades conheceram ao longo do tempo? Uma pesquisa rápida mostra algumas delas: Peste Negra, cujo auge foi entre 1343-1353, com estimativa de mortes de 75 a 200 milhões de pessoas na Eurásia. A Gripe Espanhola (1917), cujas estimativas citam até 100 milhões de mortes ao redor de todo o mundo, infectou 27% da população mundial, inclusive no Brasil. Aqui, um dos mortos foi o presidente Rodrigues Alves. A Varíola é muito antiga e assolou a humanidade por bastante tempo. Foi erradicada em 1980. Matou mais de 300 milhões de pessoas. O Tifo matou mais de três milhões de pessoas entre 1918 e 1922, durante a I Guerra Mundial. A Cólera ainda não foi erradicada e o número de mortos passa de milhares de pessoas no mundo todo, atingindo todos os continentes. A Tuberculose matou milhões de pessoas no mundo, inclusive no Brasil, e também não foi completamente erradicada. Uma das mais recentes é a epidemia de AIDS, ainda sem cura; acredita-se que, desde 1980, houve mais de 20 milhões de mortes no mundo todo relacionadas ao vírus HIV. Podemos citar, ainda, Ebola, Zika, SARS etc., doenças que encheriam páginas e páginas. 

Diante desse quadro, o que fazer? Chorar? Espernear? Não! Devemos ler, estudar, investir em pesquisa científica e estimular bons hábitos de higiene e alimentação. Já seria um alento, mas a ignorância continua aqui e ali, insiste, perigosamente, nos arrastando para o passado. Tanto quanto tenho medo do vírus, tenho receio das fogueiras da inquisição, das notícias falsas, de cretinices e da irresponsabilidade política.

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