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Lista de impropérios

Tempos de ânimos acirrados e de graves rachaduras sociais nos obrigam, no mínimo, a ter pleno domínio

Renato Muniz Barretto de Carvalho
Publicado em 25/01/2020 às 10:09Atualizado em 18/12/2022 às 03:47
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Tempos de ânimos acirrados e de graves rachaduras sociais nos obrigam, no mínimo, a ter pleno domínio e manter uma boa lista de impropérios para usar quando necessário. A divisão cada vez pior e intransigente entre os grupos políticos, a impaciência das pessoas e a deterioração das relações sociais exigem criatividade até nos xingamentos. Se for pra partir para a briga, melhor que seja com conhecimento. Nada de amabilidades, as circunstâncias dispensam cortesias e mesuras. Deve-se evitar o uso dos termos sem saber seu significado, muito menos ofender quem não tem nada a ver com o problema ou com as insatisfações em curso. 

Os animais, por exemplo, o que eles têm a ver com nossos desentendimentos? Xingar alguém de burro, de anta, de vaca, de jumento, de toupeira, de hiena, de cachorro, etc., além de condenar ou desmerecer o animal, vilipendiando-o e ao destinatário do insulto, depõe contra o agressor e nem sempre surte o efeito desejado. Pelo contrário, pode despertar empatia se houver alguma identificação sentimental com o animal. Existe bicho mais simpático e inofensivo do que uma vaca? Em raras ocasiões ficam bravas e, se partem para cima dos outros, é porque estão defendendo sua cria — os bezerrinhos. Qualquer mãe faria o mesmo, não é?

Burros e jumentos: muita gente boa já solicitou a retirada deles da lista de ofensas. Sabe-se que sua inclusão é injusta, pois é óbvio que esses adoráveis animais não têm culpa no cartório. Carregaram nas costas a riqueza do Brasil Colônia; suportaram no lombo os naturalistas que cruzaram o país de ponta a ponta no século XIX; transportaram muito ouro, queijo e farinha para os mercados. Se alguns representantes da espécie se revoltam e resolvem empacar, dar coices, derrubar cavaleiros que insistem em lhes cravar uma espora na barriga, a responsabilidade não pode ser atribuída a todos os muares e asininos.

Diante disso, excluídos os representantes da fauna, proponho à consideração dos contendedores uma lista ampliada, ainda que incompleta, sobre a qual cabem ponderações e possíveis substituições. Linguagem e “palavrões” escatológicos também foram suprimidos. Claro que o objetivo é dar vazão à agressividade entre os adversários, ofender, injuriar, ultrajar o oponente, desqualificá-lo perante a opinião pública, humilhar junto aos parentes e aos inimigos. Vamos à lista: azêmola, babaca, basbaque, bobo, bocó, cretino, estulto, estúpido, idiota, ignaro, ignorante, imbecil, inepto, lacaio, lerdo, matungo, mentecapto, néscio, nojento, obtuso, pacóvio, palerma, parvo, pascácio, pateta, tapado, teimoso, tolo, tonto… Já pensou alguém se dirigindo ao opositor: “seu pacóvio!”, vai causar furor e espanto. Pode crer! 

Que a lista seja útil! As eleições vindouras servirão para exercitar o vocabulário, alguém há de merecer. Mas lembre-se: não pode encostar a mão nem puxar o cabelo do oponente, nem falar mal da mãe, do pai ou dos cônjuges, pois, além de hostil, é deselegante. Em todo caso, melhor mesmo é não ofender ninguém.

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