ARTICULISTAS

Falando de deslocamento para o estrangeiro

Ano novo, novas experiências, vida nova? Vida complexa e difícil de estrangeiro

Sandra de Sousa Batista Abud
Publicado em 22/01/2020 às 20:17Atualizado em 18/12/2022 às 03:42
Compartilhar

Ano novo, novas experiências, vida nova? Vida complexa e difícil de estrangeiro, para alguns em outro país. 

Aumentam cada vez mais os deslocamentos de pessoas para outros países, forçadas ou não, ou à procura de uma qualidade de vida melhor, fugindo de condições precárias de pobreza, de desemprego, guerra, crises econômicas ou oportunidades de estudos e desenvolvimento pessoal.

Em uma década, a quantidade de brasileiros fazendo intercâmbio triplicou. Em 2007, os intercambistas eram em torno de 85 mil, e em 2017, tornaram-se mais de 246 mil, conforme dados da agência Brasilian Educational & Language Treval Association. Pais de adolescentes e jovens, preocupados com o futuro dos filhos, investem em intercâmbios para estes aprenderem idiomas como inglês, espanhol, japonês e mandarim, assim como para realizarem cursos de Robótica e Programação.

Esse tipo de deslocamento, visando estudos ou trabalho, acontece entre estados e cidades brasileiras em grande escala.

O autoconhecimento é importantíssimo para o indivíduo que vai morar fora, o qual se refletirá no reconhecimento de si mesmo, de suas particularidades e características e, principalmente, no real desejo individual de mudança de residência, depois de avaliar perdas e ganhos e o que será agregado à história de vida da pessoa.

“A busca externa não poderá nunca compensar a busca interna.”

É muito importante, também, o apoio familiar, diferente de cobrança e pressão sobre um resultado positivo da experiência. O sentimento de pertencimento a um sistema familiar e a um lugar, mesmo a distância, e da possibilidade de retorno é uma das bases emocionais mais importantes para alguém que se aventura no exterior.

O fato de ser estrangeiro em outro país é bastante complexo e o sujeito poderá lidar com esse conflito elaborando o luto da pátria de origem, considerando as perdas e ganhos, assumindo a escolha feita e efetivando um pertencimento ao outro país e à sua cultura.

A saúde mental e a financeira são determinantes para experiências fora do lar.

Mudanças envolvem escolhas, as quais implicam perdas, que, neste contexto, significam vários lutos, tais como o luto da família e de amigos, da língua, da terra, do status social, da cultura, da integridade física e do pertencimento. Observe-se que luto é a reação à perda de um ente querido ou à representação deste e a elaboração do luto é uma questão emocional e de saúde mental.

Em uma amostra de dois mil universitários, 36% dos estudantes internacionais apresentaram uma saúde mental fragilizada, segundo pesquisa realizada no Reino Unido, o que mostra que não basta ter apenas o conhecimento teórico e acadêmico ao decidir morar fora, e aqui cabe lembrar o que disse Y. N. Harari, em 2018:       “Se você não se sente em casa dentro do seu corpo, nunca se sentirá em casa dentro do mundo.” Assim, é de extrema importância estar bem consigo mesmo para aprender coisas novas e preservar o equilíbrio mental em situações diferentes e não familiares.

O ganho maior de mudanças de cidade ou de país para estudar ou trabalhar é a oportunidade de vivenciar a si mesmo em relação com outros diferentes, compreendendo e suportando as angústias provocadas pela estranheza do outro e ressignificando a própria história, modificada pelas relações com seres diferentes e diferentes complexidades. 

(*) Psicóloga Clínica

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Logotipo JM Magazine
Logotipo JM Online
Logotipo JM Online
Logotipo JM Rádio
Logotipo Editoria & Gráfica Vitória
JM Online© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por