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O risco de amar

Uma nova experiência é sempre ameaçadora e um risco e entre as possibilidades

Sandra de Sousa Batista Abud
Publicado em 11/12/2019 às 22:20Atualizado em 18/12/2022 às 02:45
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Uma nova experiência é sempre ameaçadora e um risco e entre as possibilidades de novas experiências está o risco de amar alguém. A vivência dessa experiência aumenta o medo de amar. 

Temos o nosso objeto de amor, mas somos também dependentes do objeto do amor escolhido.

Em O Mal-estar da Civilização, Freud registra: “...sendo dependentes do objeto do amor escolhido,... nós nos expomos à mais forte das dores, se somos desprezados por ele ou se o perdemos por motivo de infidelidade ou de morte”.

Amar alguém significa, de certa forma, perder parte do domínio de si mesmo e assim, às pessoas conscientes do fato, acomete o medo de amar.

“Quando abrimos o coração ao amor, ficamos vulneráveis ao risco de mágoa; quando estendemos os braços à frente, nos arriscamos a rejeição... Por termos medo da vida procuramos controlá-la, dominá-la” é o que escreve o psicanalista norte-americano Alexandre Powen no livro Medo da Vida.

Um amor não correspondido e a perda de um ser amado são causas de uma dor imensa que quase sempre altera diretamente o equilíbrio emocional da pessoa e afeta a autoestima.

Pessoas existem que, ao conhecer alguém que as agrade, alteram o desenvolvimento da relação ao se precipitar por ansiedade – grande mal-estar físico e psíquico, aflição, agonia, desejo permanente e impaciente, receio, estado afetivo penoso caracterizado pela expectativa de algum perigo que se revela em determinado e impreciso e diante do qual o indivíduo se julga indefeso e por insegurança –, sensação de não estar protegido e inseguro e falta de confiança em si mesmo, em suas qualidades ou capacidades. Neste contexto, as pessoas querem garantir a ausência da rejeição, o que nunca é garantido. E, se o interesse e o amor não são correspondidos, o medo de se entregar novamente é reforçado, o que gera um círculo vicioso. No início de um relacionamento, a ansiedade para se assegurar do amor do outro, ou a ansiedade para não se correr riscos, pode antecipar o fim. Não é fácil conter a ansiedade e deixar que o relacionamento cresça naturalmente, e o tempo de cada um é pessoal. Corre-se o risco de achar o outro perfeito e acreditar que as próprias necessidades serão priorizadas e supridas por idealização excessiva. Isto pode não acontecer e quando acontece é uma conquista demorada que envolve sensibilidade, comunicação, negociação e flexibilidade. Por idealizar demais as pessoas e as relações ou por carência extrema, ou por ansiedade, indivíduos falham em sua capacidade de fazer avaliações sobre o outro e sobre o desenvolvimento do relacionamento iniciante, onde o medo, a realidade, a fantasia e expectativas dificultam uma clara visão do outro.

O amor possibilita um grande risco e é necessário que o indivíduo esteja preparado, para qualquer resultado. Não temos controle sobre atitudes sentimentos da outra pessoa. É imprevisível o resultado de qualquer situação nova em muitos aspectos da vida.

O controle das situações é ilusório e sem uma boa quantidade de princípio de realidade, a tarefa de ficar exposto a uma nova experiência é ameaçadora, principalmente nas relações afetivas.

As experiências afetivas pessoais, desde o nascimento, serão determinantes para garantir que a pessoa tenha uma estrutura psíquica que não a faça desestruturar-se na ocorrência do rompimento de um relacionamento amoroso. 

(*) Psicóloga clínica

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