ARTICULISTAS

Pioneiros da História da Música em Uberaba

Sempre digo que sem conhecer o passado jamais entenderemos o presente

Olga Maria Frange de Oliveira
Publicado em 16/11/2019 às 13:42Atualizado em 18/12/2022 às 02:00
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Sempre digo que sem conhecer o passado jamais entenderemos o presente. Ciente de que a realidade histórica, carente de veracidade palpável, exige provas documentais, informações acumuladas em diferentes fontes e depoimentos de remanescentes, a ponto de compor por inteiro uma época há muito soterrada, ao longo de quatro longos anos realizei uma verdadeira devassa nos documentos do Arquivo Público de Uberaba, que resultou no livro “Pioneiros da História da Música em Uberaba”. O referido livro, que vem preencher uma lacuna no setor musical, será lançado oficialmente pela Academia de Letras do Triângulo Mineiro no “Centro Cultural Cecília Palmério”, Campus I da UNIUBE, dia 22 de novembro (sexta-feira), às 19h30, integrando os eventos comemorativos do bicentenário de Uberaba. 

Vale lembrar que esta é a data em que se comemora a padroeira da música, Santa Cecília. Você, caro leitor, é meu convidado de honra para estar ao meu lado e dividir comigo as emoções deste dia.

Selecionei os nomes mais representativos do passado, que apagamos do cenário musical atual a despeito das inúmeras obras produzidas. Empenhei-me em trazer de volta à cena contemporânea, décadas depois, aqueles compositores que, lamentavelmente, haviam caído no esquecimento pelo abandono de seu legado musical. Decidi trazer esses valorosos músicos novamente para perto de nós, iluminando seus passos, resgatando suas histórias de vida e expondo suas árduas conquistas. Eu diria que, conquanto tenham tido decretadas suas mortes mediante um incompreensível silêncio, suas obras permaneceram latentes à espera de um intérprete. Como se todos eles aguardassem, pacientes, serem resgatados para ocupar um lugar de destaque na construção de nossa cultura musical. O lugar que sempre lhes pertenceu por direito.

A verdade é que eles desvendaram Uberaba e projetaram sua arte muito além de seus limites geográficos, em nível regional, nacional e até mesmo internacional. Suas composições elevaram o conceito da nossa terra e revelaram um pioneirismo que fez de Uberaba a capital artística do Triângulo Mineiro.

Os pioneiros... Como eu gostaria que todos entendessem que suas vidas foram preciosas e que eles são exatamente os baluartes, as pedras de toque, as notas fundamentais, os paradigmas necessários para tudo o que veio depois deles.

Nas dezenove biografias selecionadas constam instrumentistas de primeira linha, sem falar dos cantores, como Edson Lopes, considerado o melhor baixo-cantante das Américas, e Paulo Marquez, que tem seu nome no primeiro escalão do samba. Músicos que brilharam em nível nacional, como o flautista Pedro Vieira Gonçalves, que participou da “Semana de Arte Moderna” de 1922, teve seu nome incluído entre os maiores chorões do cenário carioca dos anos 50, além de participar de gravações antológicas ao lado de Pixinguinha; Joubert de Carvalho, um dos maiores compositores de música popular de todos os tempos e cujas músicas foram gravadas pelos mais renomados cantores da Era do Rádio; Antenógenes Silva, premiado internacionalmente e considerado o maior acordeonista de sua época; Elviro do Nascimento, coordenador de todas as bandas militares do Estado de Minas Gerais, sucessor de Francisco Nunes no Conservatório Mineiro de Música e na regência da Orquestra Sinfônica Municipal de Belo Horizonte, além de ser o maior compositor de música erudita de Uberaba; e Benedito Chaves, o “Guru”, violonista que transitou pelo popular e erudito e foi o responsável pelo surgimento do “Trio Elétrico” na Bahia. Além de tudo isso, nos deparamos com a comovente história do multi-instrumentista cego João Tomé, cuja vida dignificou a classe artística uberabense na Capital Federal.

Era necessário aprofundar a essência mágica desses temperamentos que tantas vezes me surpreenderam pela riqueza de sua herança musical. A vida se perpetua através da arte. A área musical de Uberaba acolheu descendentes de escravos, mulatos, membros da classe trabalhadora, empresários da classe média, imigrantes e filhos de imigrantes. Todas as etnias em esplêndida miscigenação. Zelei por preservar um legado que julgo pertencer ao povo uberabense. 

(*) Pianista, professora, maestrina, regente do Coral Artístico Uberabense, pesquisadora da História da Música em Uberaba e ex-diretora-geral da FCU

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