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A Saúde Mental na Terceira Idade

Antes de discutirmos a Saúde Mental propriamente dita, precisamos contextualizá-la com o envelhecimento humano

Alberto Garcia Dornelas
Publicado em 13/09/2019 às 20:53Atualizado em 18/12/2022 às 00:13
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Antes de discutirmos a Saúde Mental propriamente dita, precisamos contextualizá-la com o envelhecimento humano, que pode ser definido como um processo influenciado por diversos fatores e que evolui ao longo de toda uma vida. Com um olhar biológico, podemos dizer que ele é entendido como um processo sequencial, individual, acumulativo, natural, e próprio a qualquer ser humano. Já com um olhar social, o desenvolvimento pode ser entendido como um conjunto de mudanças pessoais acerca dos papéis individuais de cada um e as formas como se dão os relacionamentos sociais à medida que ele acontece. 

E a saúde nessa história, onde fica? Segundo a OMS, saúde é definida como um completo bem-estar físico, mental e social. Quanto à saúde mental, ela pode ser entendida como um equilíbrio entre as predisposições individuais e das interações com o meio, que permite que o indivíduo desenvolva suas potencialidades e alcance as satisfações de suas necessidades.

À medida que se envelhece, novos desafios surgem. O corpo muda: os músculos não são tão fortes como antes, os cabelos embranquecem, surgem rugas, problemas de visão e audição se tornam relativamente comuns. Transformações sociais acontecem aos poucos: caminha-se para a aposentadoria e, com ela, mudanças na rotina diária de vida se impõem. Os filhos, quando presentes, estão crescidos e em processo de construção da própria história, o que, em boa parcela das situações, faz com eles fiquem distantes dos pais. Preocupações sobre segurança financeira e ambiental (moradia, segurança, apoio social) se apresentam. E esse conjunto de mudanças traz consigo questionamentos diversos. Assim, o aparecimento de comorbidades clínicas, experiências subjetivas de falta de propósito, baixo suporte social, dificuldades financeiras, limitações funcionais, dentre outros, contribuem para o comprometimento da Saúde Mental.

Mas por que a Saúde Mental deve ser motivo de atenção especial à medida que envelhecemos? Pelo fato de esses problemas serem relativamente frequentes! Segundo a OMS, aproximadamente 15% das pessoas com mais de 60 anos apresentam algum quadro de adoecimento mental. Já o Centers for Disease Control and Prevention (CDC) estima em 20% o número de idosos que apresentam algum tipo de problema relacionado a esse campo. Depressão acomete cerca de 4-5% dos idosos, porém, quando hospitalizados ou institucionalizados, chega a 30%. Transtornos de ansiedade, declínio cognitivo e uso de drogas também são relativamente frequentes.

Nessa fase da vida, o adoecimento mental tem suas particularidades. Por exempl a depressão no idoso se apresenta com mais queixas somáticas, prejuízos cognitivos e sintomas psicóticos, quando se compara com a apresentação em outras faixas etárias. Por vezes, um quadro depressivo precede, se associa ou é até mesmo confundido com um quadro demencial. Sintomas de ansiedade frequentemente se associam a receio do adoecimento físico, perda de autonomia e receio de abandono. Portanto, estar atento ao envelhecimento para que ele ocorra de maneira saudável e ativa é fundamental. E para que isso ocorra são necessários cuidados com o processo de envelhecimento, somando a adequações alimentares, realização de atividades físicas regulares, otimização dos cuidados de segurança, saúde e maior envolvimento em atividades sociais, permitindo-se apreciar momentos de lazer e envolvimento social. 

(*) Médico psiquiatra (CRM-MG 57649/CRM-SP 193840), especialista em psiquiatria da Infância e Adolescência e integra a equipe do Ineps (Instituto de Neurociências Elza dos Passos Silva), em Uberaba

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