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Sobre o dia dos pais e o tutano

Os idos eram 1984. Morávamos em outra cidade

Julio Cesar Oliveira Bernardo
Publicado em 17/08/2019 às 13:24Atualizado em 17/12/2022 às 23:30
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Os idos eram 1984. Morávamos em outra cidade. Tempo de amargas, desconfortáveis e doloridas privações. Eu tinha meus seis anos ou quase. Um dia meu saudoso pai me disse que o tutano (aquela gordura do meio dos ossos da vaca) era boa pra saúde, pra ficar forte, pra ficar musculoso. Pra que ele foi me dizer aquilo? Ansioso agudo e crônico desde tenra idade, fiquei louco pra tomar a sopa desse troço (tutano). Queria naquela hora mesmo. Rápido. Ele ficou me enrolando desde o almoço (ele era enrolado). Só sei que fiquei louco. Queria ficar musculoso. E tinha que ser naquele dia... Às 16h, minha paciência havia esgotado e eu... Tinha um arco e flecha de bambu. Brincava com eles... Nesse dia, numa tarde infeliz, num ato de impaciência e ira, dei uma flechada no meu pai. E a flecha mequetrefe bateu a uns sete milímetros do olho dele.... Vixe!!! O homenzarrão ficou irado, queria me esganar, me trucidar. No quintal havia uns oito pés de laranja. Fugi dele entre essas laranjeiras, fugi e fugi... Quando não consegui mais... Ele ia me acertar em cheio, me tirar o couro. Minha mãezinha, franzininha, pequenina, interveio, salvou-me. Só levei uma baita surra (merecidíssima). Não me lembro se naquele dia não havia gás ou sequer fogão... Só sei que na casa do Seu João Crente, um vizinho, à noite, num tachão de cobre daqueles antigos, num fogão a lenha, meu pai promoveu uma gigantesca sopa de osso com tutano pra vizinhança toda. O amor venceu. Sempre vence. 

(*) Professor e cronista

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