Especialista analisa o mercado de trabalho e aponta as principais dificuldades
Cerca de três a cada dez desempregados no Brasil estão em busca de uma recolocação no mercado de trabalho há mais de dois anos, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). De acordo com o levantamento, ao final do 1º trimestre de 2022 o número de trabalhadores desempregados no período era de 3,4 milhões – cerca de 29% do total de desempregados no país. De um lado, o alto número de desempregados, do outro, empregadores reclamando da falta de mão-de-obra. Onde está o problema?
Segundo a analista de Recursos Humanos Ana Tomé, está faltando qualificação da parte dos profissionais, mas também falta às empresas a análise sobre o que estão cobrando dos pretendentes para as vagas. “Falta as empresas nivelarem o que estão pedindo. Como, por exemplo, empresas que pedem fluência em um segundo idioma e, na realidade, no dia a dia, elas não usam o segundo idioma”, aponta a especialista. E ela ainda faz um alerta: “As empresas estão se ajustando, porque elas pedem tantas qualificações, que a minha pergunta é: será que quem está na empresa tem todas essas qualificações requeridas?”.
Antonio Carlos de Sousa Neto, de 23 anos, trabalhava como vigia noturno e está há um mês e 20 dias desempregado. Ele reconhece que a extensa lista de exigências é um impeditivo para conseguir um emprego rapidamente. “O que aparecer, eu estou aceitando. ‘Caiu na rede, é peixe’. Mas encontrei dificuldades em preencher os dados das empresas”, comenta.
Só é considerado desempregado aquele trabalhador que não está ocupado no mercado de trabalho, tem disponibilidade para trabalhar e está, efetivamente, em busca de uma vaga.
Levantamento realizado por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), referente ao primeiro trimestre de 2022, quando o país registrava um contingente de mais de 11,9 milhões de desempregados, aponta que, em março, 40,8% desses trabalhadores estava em busca de nova oportunidade de trabalho há mais de um mês, mas a menos de um ano.
Ana Tomé ainda esclarece que enxerga um distanciamento entre as universidades e as empresas. “Estão graduando pessoas e alunos que não estão conectados com as principais demandas da empresa. Precisa ser feito, no Brasil, um movimento de aproximar as instituições de ensino das empresas, para que assim possamos entregar para o mercado, profissionais mais qualificados”, conta.
A especialista ainda explica que mesmo entendendo ser um momento difícil para o desempregado, uma boa forma de fazer novos contatos e poder escolher boas oportunidades, é se qualificando. Além de explicar que, em alguns casos, as empresas têm responsabilidade de formar os profissionais.