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Prefeito de Belo Horizonte e pré-candidato ao governo de Minas, Alexandre Kalil, esteve ontem em Uberaba para proferir palestra sobre a pandemia
Lídia Prata/Márcio Gennari/Luiz Henrique Cruvinel
Prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD) tem sido apontado como pré-candidato a governador de Minas e ele não desmente essa possibilidade. Ontem, esteve em Uberaba, proferindo palestra na sede da Aciu sobre “os municípios na era da pandemia”. A capital mineira se tornou referência internacional no controle da disseminação do novo coronavírus, sendo reconhecida pelo Imperial College of London. Há entendimento de que, se todas as cidades tivessem seguido o exemplo de Belo Horizonte, ao menos 300 mil vidas teriam sido salvas no Brasil. Kalil concedeu entrevista aos jornalistas Lídia Prata Ciabotti e Márcio Gennari, no programa Pingo do J, na Rádio JM, na sexta-feira (22). Para ele, Minas precisa levantar sua voz e se colocar junto ao governo federal como um Estado importante, e não apenas ter o governador amigo do Presidente. Contudo, preferiu não externar qualquer avaliação a respeito do atual governo estadual, comandado por Romeu Zema, que poderá vir a ser o seu principal adversário no caso de candidatura ao governo. Na entrevista, ele disse ainda acreditar na possibilidade de uma terceira via para a disputa da Presidência da República, principalmente após a filiação do presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco, ao seu partid o PSD. Confira:
JM - O senhor enfrentou alguns embates em Belo Horizonte para o controle da pandemia. Valeu a pena?
Alexandre Kalil - Eu acho que sim. Acho que o embate se deu em um momento de desconhecimento total da pandemia, então a gente não pode condenar quem foi contra, quem não acreditava [as restrições com normas sanitárias]. Temos que lembrar que foram dois anos de evolução muito rápida. Nós acreditamos, desde o início, do lado certo. Quando você não sabe nada, deve correr para a ciência. Belo Horizonte recebeu um prêmio internacional [de reconhecimento do Imperial College of London] dizendo que, se todas as capitais adotassem o modelo de BH, teríamos 300 mil vidas salvas. Então, eu acho que a resistência é normal, é do ser humano. Nós entendemos que a vida é o mais importante.
JM - A economia em Belo Horizonte sofre mais ou menos pelas atitudes adotadas pelo senhor?
AK - Na verdade, menos. Há um estudo da UFMG que aponta que quem combatesse, tivesse mais pulso e controlasse melhor a pandemia teria um retorno mais rápido da economia. Vemos hoje que há capitais que mataram mais e outras que mataram menos. E a recuperação econômica é exatamente igual a todas, seguindo as devidas proporções. Hoje, nós sabemos que quem poupou vidas não teve prejuízo na economia.
JM - A palestra [proferida ontem] era dirigida a um público específico?
AK - Eu não escolhi o público. Tive um honroso convite da Aciu, através do Anderson [Adauto], e não fui eu quem fiz. Optei por ser no final de semana porque sou prefeito de Belo Horizonte antes de ser presidente da Frente Mineira de Prefeitos (cuja eleição está suspensa pela Justiça em decisão de 1ª Instância na sexta-feira). Afinal, tenho que trabalhar, como todos os prefeitos. Isso me dá muita honra, estar no celeiro de Minas Gerais, um lugar que é muito importante para todo o Estado. O Triângulo é a “despensa” de Minas Gerais, onde buscamos o alimento, onde tem fartura, onde tem o trabalho, emprego e muita riqueza.
JM - Muitas pessoas comentam que a vinda a Uberaba tem conotação eleitoral. Tem ligação?
AK - Tudo que a gente faz eles tomam como cunho eleitoral. Eu estou programando. Nós fizemos 26 centros de saúde novos e vou começar as visitas, porque eu não inauguro obras, não gosto de placas, eu nunca fiz isso quando era presidente do Atlético, nem na Prefeitura. Mas é importante falar o seguinte, o sábado e domingo são meus, se eu estivesse em campanha ou não, não me importo. Falam coisas de mim que até Deus duvida. Eu continuo tentando conversar, dialogar. E, se eu for, não vou tirar o paletó e dizer “olha, eu sou candidato”. Nós temos que ver como está o Estado, se está atendido, se todas as regiões são respeitadas. Eu sou prefeito de Belo Horizonte, fui eleito em primeiro turno e tenho que respeitar esse povo que votou em mim.
JM - O senhor tem aparecido nas pesquisas bem colocado na capital, mas no interior nem tanto. As andanças pelo Estado teriam a finalidade de se tornar mais conhecido no interior?
AK - É muito bom escutar isso. Eu faço a seguinte conexã quem conhece vota? Então, tá ótimo. Eu preciso ser só conhecido? Não preciso falar que Belo Horizonte paga contas em dia? Que BH está recuperada? Que BH não tem escândalo? Se for isso a conexão de tudo, eu fico muito satisfeito, porque andar em Minas Gerais é muito prazeroso. Haja vista que eu fui construtor, andei por todos os lados do Triângulo. Agora, se precisar de eu ser conhecido, tá ótimo. O voto mudou muito. O voto não é mais “agora vou fazer isso”. Em Belo Horizonte, fazemos um trabalho muito consistente, e aí pega o assunto Covid, saúde, educação, infraestrutura. Está sendo feito tudo há 5 anos. Agora, BH tem o que mostrar. Você me deu um bom dado. Quem conhece vota? Então, tá ótimo.
JM - Qual avaliação o senhor faz do Governo do Estado? O que poderia fazer diferente se fosse governador?
AK - Ainda não tenho uma avaliação mapeada do Governo. Acho só que a situação herdada foi simplesmente usada como “olha, peguei assim e vai ficar assim”. E não pode ser assim. Você tem que dar carinho, atenção. Nós temos que trabalhar durante quatro anos. A gente, que pensa em reeleição, faz um trabalho a longo prazo. Eu, realmente, não sei. Tenho minha avaliação particular e pessoal que prefiro guardar pra mim. O que eu não quero é que soterrem 300 pessoas por ano para se brigar por uma verba que está suja de sangue. Nós temos que viabilizar. Uberaba é uma cidade rica, importante e tem que ser dada uma atenção especial, como é para Uberlândia, Ituiutaba, Araxá, Patrocínio. Temos que ver que Minas Gerais tem voz. O Presidente da República, que é amigo do Governo de Minas, vetou as cidades mineiras a entrarem na Sudene. O lado Sul está matando pessoas de fome porque alimentamos a Paraná-Tietê de São Paulo. Nova Ponte, no Triângulo, tem problemas. Não temos que ser amigos do Governo Federal, não. É cobrar do Presidente, seja ele quem for, que isso aqui é um Estado importante, rico, populoso, e deve ser tratado de forma totalmente diferente do que é tratado hoje.
JM - Assim como em Minas pode haver polarização, a mesma coisa acontece em nível federal. Como fica o prefeito Alexandre Kalil neste processo? Vai ter a opção de caminhar com um dos dois?
AK - Nós ainda estamos muito longe. Está surgindo uma nova via importante. O presidente Rodrigo Pacheco vem como uma terceira via importante, se filiou ao PSD, meu partido, e acho que muita gente anseia por isso. Agora, a posição do prefeito é a de sempre: Minas Gerais tem voz, e quem tem voz não deve se calar. O prefeito de Belo Horizonte tem uma voz, que, se é pequena ou grande, não me interessa, mas desta vez, eu, como cidadão, vou me posicionar na hora correta. O que não vou ficar é acendendo vela para Deus e para o diabo. Acho que o governador Zema teve uma atitude correta quando apoiou o presidente Bolsonaro. Ele é amigo e leal ao Bolsonaro. E a favor ou contra, não tenho nada contra ele ser apoiado pelo Governo Federal. Só não concordo com as posições do Presidente da República. Mas, se o Governador está próximo como está, não tenho crítica nenhuma. Só gostaria que, aproveitando a amizade, sejam aportados mais investimentos para o Estado.
JM - Isso [aportado mais investimento para o Estado] o senhor tem visto na prática?
AK - Não. O Governo Federal não dá a mínima para Belo Horizonte. A última falácia foi o CPTU, o metrô Estadual. Falaram que iam aportar R$3,2 milhões, o que é mentira absoluta. Vieram fazer festa na capital. O que vão fazer é sanear uma empresa podre, a CPTU, e ela vai ser privatizada. E, depois disso, a empresa que pegar vai se comprometer a fazer a linha do metrô. Isso tem que ser melhor conversado. Não podemos mentir nem enganar. Nós temos que colocar os pingos nos is. Não colocam dinheiro em obras de Minas Gerais. Temos que levantar a voz e gritar. Somos mineiros, temos nosso estilo, mas pera aí. São Paulo leva tudo, Rio de Janeiro leva tudo. E Minas Gerais fica “somos muy amigos”? Isso aí, vai me desculpar, eu não aceito.
JM - Alguns vereadores pediram o impeachment do prefeito, após um áudio vazado. O senhor classifica isso como pré-eleitoral?
AK - Claro. O grande áudio vazado é que eu pensava que o advogado do ex-presidente da BHTrans seria pago pelos motoristas de ônibus. Se eu soubesse que fulano é traficante de drogas, eu vou ser convidado para o tráfico de drogas? É uma coisa política. Mas vou levando com tranquilidade. A população me elegeu na reeleição há menos de um ano. É a nova política: entrega para a população que ela vai lá, põe o dedo e reconhece tudo que tem sido feito. É assim em BH, Uberaba, Ituiutaba, no mundo inteiro. Entrega pro povo e o povo reconhece.