CIDADE

Confirmação da nova cepa é uma preocupação a mais em Uberaba, que vive crescimento exponencial da Covid-19

Larissa Prata
Publicado em 16/02/2021 às 12:20Atualizado em 19/12/2022 às 04:43
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A pandemia em Uberaba continua sem perspectiva de queda. A avaliação é da doutora em Matemática e professora do Instituto de Ciências Exatas, Naturais e Educação - Icene, da UFTM, Michelli Maldonado, uma das integrantes do Observatório Covid e também do comitê técnico de enfrentamento à Covid-19 em Uberaba, que divulgou ontem (15) novos gráficos e projeções da doença na cidade. Eles não são mais otimistas do que os da semana passada.

“Ainda nenhum dos indicadores (variação da média móvel e R) entraram em tendência de queda. Em contrapartida, a variação da média móvel de óbitos está em 12%, se aproximando dos 15%, o que indica tendência de alta”, explicou Maldonado. Vale lembrar que a taxa de transmissibilidade, chamada de R, precisa estar abaixo de 0,9 para ser caracterizada a queda; já a média móvel, que é o outro indicador, precisa estar abaixo de 15% por 14 dias. Hoje, segundo Michelli Maldonado, temos R de 1,27 e média móvel de 23% em Uberaba.

Segundo os gráficos do Observatório Covid Uberaba, há estimativa de crescimento exponencial para os próximos cinco dias no município. A notícia chega quase simultaneamente à confirmação da nova cepa do coronavírus na cidade, trazida pelos pacientes manauaras que aqui estiveram para tratamento. Apesar de previsível, a chegada da nova cepa só reforça a necessidade de intensificar os cuidados. É o que pondera a médica infectologista Cristina Hueb Barata.

“A presença dessa variante nesses pacientes que vieram de Manaus já era uma expectativa, a gente já imaginava que alguns deles viriam, porque dos 18 que vieram, 17 ainda continuavam tendo a positividade no PCR, mas isso não quer dizer que, necessariamente, porque eles estiveram aqui internados que a variante pode já estar circulando. É sim uma preocupação a mais porque inclusive já temos três estados no Brasil em que foi detectada essa nova variante em pessoas que não têm nenhum vínculo epidemiológico com os pacientes de Manaus. Ou seja, essa circulante já tem um livre trânsito e independe da passagem ou não, contato ou não com alguém de Manaus”, explica a especialista.

A infectologista pontua que a circulação dessa nova cepa vem de encontro com a necessidade de intensificar a vacinação, que “está mostrando que vai ser a barreira principal” contra o avanço da doença, a exemplo de Israel, país onde a pandemia mostrou queda drástica nos índices após imunização em massa da população. “As medidas de prevenção têm que ser tomadas porque elas são a nossa única barreira. A vacina ainda está mostrando que vai ser a barreira principal. A gente sabe que é esse conjunto de ações que vai fazer a diferença para impedir a disseminação do vírus. É lógico que uma vez detectada essa cepa em algum cidadão uberabense é obrigatório o rastreio e o isolamento muito rigoroso. Porque só essas medidas que vão evitar que a nova variante circule. No Brasil a gente já tem nove estados onde elas estão circulando”, alerta, se referindo às demais mutações do coronavírus, como a cepa da Inglaterra e a da África do Sul. 

Que a cepa brasileira é mais transmissível já sabemos. Mas e quanto à gravidade e letalidade? “O adoecimento com maior gravidade ainda não está documentado. E a grande preocupação realmente é isso, se ela leva ao maior escape da produção de anticorpos, que é o mecanismo de defesa, tanto gerados naturalmente pela infecção quanto aqueles gerados pela vacina. O Butantan está testando a vacina Coronavac para essa variante para a gente realmente entender se a vacina continua tendo o mesmo grau de efetividade”, explica Cristina Barata.

A infectologista ainda explica que, apesar de toda dúvida com relação à eficácia das vacinas hoje disponíveis, ainda é preciso aguardar para saber o comportamento da imunização. “A gente tem um tempo muito curto ainda para realmente saber como vai ser o comportamento desse vírus após a vacinação. O que está provado, por exemplo, foi em Israel, que já conheceu uma resposta de uma população com alta prevalência de vacinados de como foi a prevenção. Mas a gente não sabe o tempo de duração dos anticorpos. Esse é o problema ainda que a gente tem que aguardar, infelizmente, porque não temos resposta se vamos precisar vacinar todo ano, se esse vírus vai sumir, ou como é que as coisas vão funcionar”, diz. 

Cristina Barata ainda acrescenta que não é possível afirmar, com segurança, se as vacinas desenvolvidas protegem contra as variações do coronavírus. “Até o momento, o que nós estamos sabendo é que elas são válidas (contra as novas cepas). A única vacina que nós tivemos alguma confirmação foi a vacina da Pfizer com a variante da África do Sul. Ela mostrou que teve apenas 49% de efetividade, menor que os 50% recomendados pela Organização Mundial de Saúde. As outras vacinas até então não há nenhum relato de redução ou mesmo de falta de efetividade para as variantes”, explica.

Somente poderemos ver a luz ao fim do túnel na pandemia quando houver a vacinação em massa da população. Contudo, já ter recebido a segunda dose da vacina não garante que as medidas de isolamento social, máscara e higiene pessoal poderão ser afrouxadas ou até mesmo eliminadas. Pelo contrário. “Lógico que não pode nem deve. Primeiro porque a gente não sabe se aquela pessoa realmente ficou imunizada, porque só depois de 15 dias da segunda dose é que o sistema imunológico vai realmente mostrar o que ele foi capaz de produzir. E tem também uma grande dúvida se pessoas vacinadas continuam carregando o vírus no orofaringe. Eles não adoecem, mas eles podem ter o vírus na faringe e transmitir para outras pessoas. Por isso que máscara, distanciamento social, higienização pessoal continuam sendo o sistema de maior segurança”, reforça a infectologista.

E quem já teve Covid-19, já está completamente imunizado? Não. Segundo Cristina Barata, após a cura da doença, o infectado fica imune por quatro a seis meses. Após esse período, está sujeito à reinfecção. “Por isso que é importante vacinar. Porque o que a gente conhece até o momento da dinâmica da produção de anticorpos é que eles realmente vão reduzindo ao longo do tempo”, alerta. 

A especialista ainda chama atenção para a vacinação de pessoas que estejam em tratamento contra a Covid-19. Elas devem aguardar, necessariamente, 30 dias após o teste positivo antes de receberem as doses de vacina. “Se você está com uma infecção ativa e você recebe uma vacina pode acontecer duas coisas: ou você ter agravamento da doença ou não criar imunidade com relação à vacina. Então por isso que esse intervalo é importante”, finaliza.  Veja os gráficos da Covid-19 em Uberaba (Fonte: Icene - Observatório Covid Uberaba):

Total acumulado de casos de Covid-19 em Uberaba e média móvel considerando intervalos de sete dias

Total de casos notificados de COVID-19 em Uberaba por mês

Novos casos diários confirmados e média móvel

Variação da média móvel de novos casos diários confirmados

Total de óbitos e Variação da média móvel

Total de óbitos por mês

Ocupação dos leitos de UTI por COVID-19 em Uberaba

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