CIDADE

Estudos da UFTM indicam que pandemia segue crescendo exponencialmente

Publicado em 09/02/2021 às 17:53Atualizado em 19/12/2022 às 04:55
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A pandemia da Covid-19 em Uberaba está com crescimento acelerado e, por enquanto, não há qualquer indício de queda em futuro próximo. A análise é da doutora em Matemática e professora do Instituto de Ciências Exatas, Naturais e Educação - Icene da UFTM Michelli Maldonado, uma das integrantes do Observatório Covid e também do comitê técnico de enfrentamento à Covid-19 em Uberaba. Segundo ela, se as aglomerações não forem contidas, os números não só não vão cair tão cedo como vão continuar aumentando a níveis ainda mais preocupantes. 

De acordo com a professora, os números altos ainda são uma consequência das festas de fim de ano, mas o que ela chama de consequência indireta. “É uma consequência indireta porque a doença, não é porque passou 15 dias depois da festa, que ela começa a cair. Então, 15 dias após as festas a gente estava num pico, que foi onde a gente iniciou a segunda onda, então tinham muitos casos ativos. Esse número alto de casos ativos, a uma taxa de transmissibilidade alta, como resultado acaba sendo transmitido para muitas outras pessoas. Ou seja, é uma consequência indireta, então não é mais daquele que se contaminou no dia 25 ou no dia 31 e 1º, mas daqueles que foram encaminhando a partir disso”, explica, deixando claro o efeito cascata gerado a partir de situações pontuais.

Michelli Maldonado ainda chama a atenção para a formação da curva da segunda onda, que está bastante diferente de quando chegamos ao primeiro pico da doença, em setembro do ano passado. “A segunda onda, pelo gráfico, ela está muito larga, diferente do pico de setembro. Em setembro a gente chegou no pico e aí a gente caiu rapidamente. Agora não. A gente subiu e agora não é possível a gente afirmar que é um platô, mas a gente está ali com um grande número de casos ativos, um número de casos diários muito alto, a curva muito longa”, alerta ela, esclarecendo que o número estabilizou, o que por si só já desperta a necessidade de novas medidas restritivas.

Segundo a especialista, há outras opções ao lockdown, mas é preciso. “Existem vários estudos que não recomendam o lockdown total por nenhum período. Precisa sim de medidas mais restritivas e de conscientização de todos para que a gente consiga diminuir esses números. Porque eles precisam diminuir. Porque a doença tem um cicl aumenta o número de casos e consequentemente aumenta o número de ocupação de leitos e consequentemente vai aumentar o número de óbitos. É o ciclo da doença, então não tem como a gente fugir disso. Esses números precisam diminuir. Eles vão diminuir com medidas restritivas, não necessariamente o lockdown, e também com a conscientização de todos, evitando a aglomeração desnecessária nesse momento”, orienta a professora, apontando que os “setores que geram mais aglomeração são os mais necessários de serem restringidos”.

Michelli Maldonado ainda deixa claro que até que se tenha algum indício de queda, só é possível fazer projeções para cima. Para ela, para que haja indicativo de queda é preciso combinar dois fatores, que são a taxa de transmissibilidade, chamada de R, e a variação da média móvel dos total de casos diários. No primeiro caso, é preciso que o R esteja abaixo de 0,9, e, no segundo caso, é preciso que a média móvel esteja abaixo de -15% por 14 dias. “Então quando a gente une essas duas informações a gente pode afirmar que há queda na cidade. E a gente está acima de 15% praticamente desde o dia 31 de dezembro. A gente entrou num momento de estabilidade, que significa apenas que a gente estava mantendo o mesmo número alto de casos por dia, mas não abaixando e nem subindo, e depois a gente voltou a subir acima dos 15%. Então a gente não tem nenhum dos indicadores, ou seja, nenhum dos nossos cálculos leva a essa indicação de queda por enquanto”, expõe. 

Hoje, o nosso R é de 1,27. Michelli Maldonado explica que isso significa que 100 pessoas infectadas transmitem para 127 pessoas e assim progressivamente. “Se em uma semana a gente tinha 100 casos novos, na semana seguinte vou registrar 127 novos casos, e aí é fazer conta, 127 vezes 1,27 e assim por diante, ou seja, é um número alto”, alerta. Vale a menção de que o R é medido para a projeção da semana seguinte. Para tanto é feita uma média da taxa de transmissibilidade de uma semana para prever a semana seguinte, pegando quantos casos ativos contribuíram para o número de novos casos na semana seguinte e mensurar qual foi, de fato, essa contribuição.

Gráficos

A assessoria de comunicação da UFTM enviou os gráficos de análise da Covid em Uberaba, bem como a análise da professora e doutora Michelli Maldonado.

No gráfico abaixo, pode-se observar a atenção para inflexão da curva após atingir dez mil casos. Percebe-se claramente uma reta inclinada e crescente.

O gráfico subsequente apresenta a ocupação dos leitos de UTI destinados exclusivamente à Covid-19. Nos últimos seis dias, a ocupação trabalhou acima dos 50% da capacidade, atingindo ontem, dia 8 de fevereiro de 2021, 66%, o que não deixa de ser preocupante e servir como alerta.

O último gráfico, abaixo, apresenta o total de casos diários confirmados, média móvel e a variação. A média móvel hoje é de 98 casos diários, ou seja, nos últimos 7 dias, foram confirmados em média 98 casos por dia. A variação da média móvel, considerando 14 dias, é de 7%. Ou seja, um aumento de 7% em relação à média móvel de 14 dias atrás.

Professora Michelli Maldonado observa que muitos estão mostrando baixa motivação ou energia para cumprir as diretrizes de segurança. Ao fazer isso, alteram-se as regras e se interrompem os comportamentos de segurança. “A matemática fica até simples: muitos casos ativos mais muitas pessoas não seguindo protocolos de biossegurança. O resultado é um aumento acelerado do número de casos, depois aumento da ocupação dos leitos e, por fim, aumento do número de óbitos. Lavar as mãos, usar máscaras, fazer distanciamento social, não se aglomerar, são atitudes simples que podem salvar vidas”, finaliza Michelli.

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