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Entrevista: Empatia pode ser ensinada como a matemática, dizem especialistas

Você já parou para pensar no quanto temos, enquanto sociedade, pensado apenas em nossos próprios interesses

Thassiana Macedo
Publicado em 18/01/2020 às 10:09Atualizado em 18/12/2022 às 03:38
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Foto/Arquivo

Sumaya Figueiredo e Thaísa Romero são, respectivamente, neuropsicóloga e neuropsicopedagoga e estudam a importância da empatia na vida das pessoas e da sociedade

Você já parou para pensar no quanto temos, enquanto sociedade, pensado apenas em nossos próprios interesses, sem nos preocuparmos muito com o que as pessoas ao nosso redor ou a coletividade vêm enfrentando? Isso significa que ainda existem pessoas que não compreendem o real significado da palavra empatia. Grandes pensadores têm refletido, por todo o mundo, que a modernidade é uma época em que a vida social passou a ter como centro a existência do individualismo.

Para o sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman, por exemplo, esta é a fase marcada por uma expansiva autonomia do homem em relação à vida social e o surgimento de membros como indivíduos, que se tornou marca de uma sociedade moderna. Em um mundo cada dia mais individualista, as perguntas que ficam sã como reaprender a viver em sociedade de maneira harmônica? Como desenvolver a empatia ou inteligência emocional? A monja budista Pema Chödron já disse que “a verdadeira compaixão não consiste em desejar ajudar aqueles que são menos afortunados do que nós, mas em dar-nos conta de nosso parentesco com todos os seres”.

Para falar sobre este tema tão importante na atualidade, o Jornal da Manhã traz entrevista com Sumaya Figueiredo, neuropsicóloga, facilitadora credenciada internacionalmente para o desenvolvimento de habilidades de compaixão baseado em Mindfulness e coordenadora do Instituto do Cérebro Uberaba, e também com Thaísa Romero, neuropsicopedagoga do Instituto do Cérebro. 

Jornal da Manhã - O que vem a ser empatia? Seria a capacidade de me colocar no lugar do outro?

Thaísa Romero - A maioria das pessoas acredita mesmo que a empatia seja isto, a capacidade de os seres humanos se colocarem no lugar um do outro. Na verdade, não está muito longe disso, ou seja, do conceito geral. No entanto, a empatia é muito mais profunda que essa simples compreensão. Veja, quando uma pessoa é empática, ela é capaz de ouvir e ver o outro com todos os seus sentidos. Eles a levam a uma compreensão máxima da situação do outro. Ou seja, a pessoa sente a dor do outro, compreende o seu sofrimento e sabe escutar ativamente. Isso lhe dá a capacidade de apoiar sem julgar e facilita, à pessoa que sofre, encontrar solução e conforto. Diferente do sentimento de dó, piedade ou pesar, a pessoa empática se iguala à pessoa que sofre. Ela se percebe integralmente como o outro naquele momento. Ter dó é a capacidade que a pessoa tem de entender a dor do outro, mas adotando uma posição superior à pessoa que está sofrendo e fazendo julgamentos ao sofrimento e/ou à situação. 

JM - É possível desenvolver essa habilidade nas crianças? Qual é a importância?

Sumaya Figueiredo - Se um ser humano é ensinado, desde pequeno, acerca das habilidades socioemocionais, e a empatia é uma dessas habilidades, ele terá mais chance de beneficiar a si e ao outro mais precocemente. Os estudos mais recentes no campo das neurociências mostram evidências científicas muito preciosas. Um exemplo é que treinar habilidades como essas garante uma qualidade de vida e o sucesso na maior parte das áreas da vida do indivíduo. Ainda existem muitos preconceitos e confusões sobre o que é empatia, compaixão, diálogo e outras habilidades importantes em nossas vidas. Assim também como é o papel de pai/mãe, avós, babás e da escola desenvolvê-las, entre outros aspectos. 

JM - E o que seria uma criança emocionalmente saudável?

Sumaya Figueiredo - É preciso ter em mente que uma criança emocionalmente saudável não é aquela que não chora, que não dá birra, que não se irrita e se frustra. Mas aquela que aprimora, constantemente, o acolhimento, discernimento e a compreensão sobre as próprias emoções, o que são, como são e como lidar com elas. Assim, poderá treinar de forma que consiga futuramente fazer melhores escolhas e ser mais responsiva e menos reativa ou impulsiva. E, por consequência, poderá cometer menos equívocos na vida afetiva, profissional, social etc. 

JM - Como a empatia pode ser trabalhada na escola?

Thaísa Romero - A empatia pode ser treinada através de atividades em que se pretende desenvolver as habilidades sociais ou socioemocionais. No caso da empatia, que é a habilidade de reconhecer os próprios sentimentos, compreender os dos outros e saber lidar com eles, é o que chamamos de inteligência emocional. 

JM - Aprender a ser uma pessoa empática parece ser tão importante como aprender matemática, então?

Thaísa Romero - Sim, é tão importante quanto os conhecimentos acadêmicos, porque confere a serenidade e o discernimento necessários para que as funções cognitivas trabalhem plenamente. Ou seja, de nada adianta seu filho ser um gênio se ele não souber lidar com as críticas, as frustrações e as angústias, por exemplo. A fim de melhorar a forma como sua população se relaciona, a Dinamarca introduziu mudanças no currículo escolar para crianças e jovens de seis a 16 anos. O que fizeram foi adicionar a disciplina “Empatia” nas escolas do país. Eles acreditam na capacidade das crianças e dos jovens em desenvolverem capacidades empáticas que os ajudem a “ajudar” e a entenderem a si próprios e ao próximo. Para os dinamarqueses, a educação de seus cidadãos deve ser integral, ou seja, importa tanto a matemática, a ciência e a língua como o fato de que seus filhos aprendam habilidades sociais que os ajudem a se relacionar de maneira efetiva com quem os rodeia. 

JM - Será que ser uma pessoa empática também pode facilitar outros aspectos na vida, como ingressar no mercado de trabalho?

Thaísa Romero - Em nosso país, algumas empresas já não estão mais preocupadas somente com o lado profissional do funcionário ou do candidato ao cargo, mas também na forma como ele se comunica e se relaciona com os colegas de trabalho. Os contratantes dessas empresas não avaliam mais somente a competência profissional, a experiência e a bagagem que ele traz em seu currículo, mas observam, fundamentalmente, “como” o profissional lida com as suas emoções e com as dos outros. 

JM - Que mensagem podem deixar para pais e educadores a respeito desse tema?

Thaísa Romero - No momento de educar uma criança para que ela seja empática, deve-se ensiná-la que não é questão de ser “perfeita”; trata-se de ser consciente dos seus sentimentos. Além disso, ela também deve aprender a se colocar no lugar do outro com o que há no momento presente. O ensino da empatia a ajuda a compreender o seu sentir e a enfrentar esses sentimentos, mesmo que não lhe agradem. Ao fazê-lo, torna-se mais fácil para a criança melhorar a si mesma como ser humano e desenvolver sua inteligência emocional. Isto, claro, ajuda a criança a acolher, a lidar com as diferenças de forma mais positiva, a saber colocar limites a si e ao outro. Com uma atitude compassiva, acolhendo o outro como é, consciente de seus julgamentos, quando houver, e o ajudando, quando necessário.

Sumaya Figueiredo - Preparando uma sociedade mais equânime emocionalmente, onde as pessoas possam desenvolver habilidades cerebrais de fundamental importância para viver bem e melhor, como atenção, autorregulação da emoção, metacognição, memória, entre outras, e cultivando seu próprio bem-estar, não de forma individual ou egocêntrica, mas também contribuindo para o bem-estar dos demais.

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