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Como nossos ancestrais sobreviveram ao asteroide que matou os dinossauros?

Publicado em 17/08/2022 às 22:56Atualizado em 18/12/2022 às 16:31
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Em meio à escuridão, às cinzas e ao calor mortal, um pequeno animal peludo corre pela paisagem infernal deixada para trás pelo pior dia para os seres vivos na história da Terra.

Ele vasculha os destroços, pega um inseto para comer e volta apressado para seu abrigo. Ao seu redor, estão os corpos mortos e moribundos dos dinossauros que aterrorizaram os mamíferos por gerações.

Essas foram as primeiras semanas e meses depois que um asteroide de 10 km de largura colidiu na costa do atual México com a força de mais de um bilhão de bombas nucleares, colocando um fim ao período Cretáceo de forma espetacular.

No alvorecer da época que se seguiu, o Paleoceno, as florestas estavam em chamas, as costas eram sacudidas por tsunamis e grandes quantidades de rocha vaporizada, cinzas e poeira se elevavam por quilômetros na atmosfera.

Mas esse mundo não era desprovido de vida. Entre os sobreviventes, estava o primata mais antigo de que se tem conhecimento, o Purgatorius, que parecia um cruzamento entre um musaranho e um pequeno esquilo.

Sua população sem dúvida foi reduzida em meio a essa catástrofe global, mas a espécie sobreviveu.

Assim era a vida dos mamíferos primitivos logo após o asteroide atingir a Terra e extinguir três quartos das espécies vivas do planeta.

Apenas a Grande Extinção, há 252 milhões de anos, foi mais mortal (embora menos repentina), ao exterminar 95% da vida nos oceanos e 70% em terra.

O asteroide que acabou com o Cretáceo levou consigo dinossauros famosos como o Tiranossauro e o Tricerátops, assim como criaturas menos conhecidas, mas bizarras, como o Anzu (ou "galinha do inferno").

Havia dinossauros com bico de pato, dinossauros de pescoço comprido, dinossauros com armaduras por todo o corpo — e, rapidamente, todos morreram.

À sombra desses reis e rainhas do Cretáceo Superior, mamíferos como o Purgatorius eram pequenos e aguerridos, muitos deles pertencendo aos tipos de nichos ecológicos hoje ocupados por roedores.

Mas, afinal, como foi que esse grupo diverso de criaturas aparentemente vulneráveis ​​— incluindo nossos ancestrais — sobreviveu ao juízo final?

É uma pergunta que Steve Brusatte, autor de The Rise and Reign of the Mammals ("Ascensão e queda dos mamíferos", em tradução literal) , e seus colegas da Universidade de Edimburgo, na Escócia, têm trabalhado para responder.

O que Brusatte enfatiza é que o dia em que o asteroide se chocou com a Terra foi um dia muito ruim para qualquer coisa que estivesse viva, incluindo mamíferos, aves (os dinossauros aviários) e répteis.

"Não foi um asteroide normal, foi o maior asteroide que atingiu a Terra nos últimos meio bilhão de anos", diz ele.

"Os mamíferos quase seguiram o mesmo caminho dos dinossauros."

Havia muito a perder. Já no Cretáceo Superior existia uma diversidade surpreendentemente rica de mamíferos, afirma Sarah Shelley, pesquisadora de pós-doutorado em paleontologia de mamíferos na Universidade de Edimburgo.

"Muitos deles eram essas coisinhas insetívoras que ficavam nas árvores ou escavando", explica.

Mas nem todos eram comedores de insetos. Havia os misteriosos multituberculados, chamados assim pelos peculiares nódulos em seus dentes.

"Eles têm esses dentes em bloco com muitas protuberâncias, e na frente tinham um dente em forma de lâmina. Parece quase uma serra", diz Shelley.

"Eles costumavam comer frutas, nozes e sementes."

Também havia carnívoros — um dos maiores da época era o Didelphodon, um parente dos marsupiais que pesava cerca de 5kg, quase do tamanho de um gato doméstico.

"Por seu crânio e anatomia dental, tinha uma mordida realmente poderosa, então era definitivamente carnívoro — possivelmente triturava ossos", acrescenta Shelley.

Grande parte dessa diversidade se perdeu com o impacto do asteroide — cerca de nove em cada 10 espécies de mamíferos foram extintas, de acordo com Brusatte, o que ofereceu uma oportunidade sem precedentes para os sobreviventes.

"Imagina que você é um destes nossos pequenos ancestrais, do tamanho de um rato — uma coisinha mansa escondida nas sombras —, e você resiste a esse momento da história da Terra", diz ele.

"Você sai do outro lado e, de repente, os tiranossauros rex sumiram, os dinossauros de pescoço comprido sumiram, e o mundo se abre."

Essa extinção em massa preparou o terreno para uma grande profusão de diversificação que acabou dando lugar a baleias-azuis, guepardos, arganazes, ornitorrincos e, claro, nós, seres humanos.

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