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"Cansei de ter que escolher a quem dar um leito"; afirma médico que foi apedrejado na Argentina

Publicado em 25/09/2020 às 19:38Atualizado em 18/12/2022 às 09:48
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Foto/Arquivo Pessoal

O cenário causado pela pandemia do coronavírus na Argentina é crítico. Um médico veio a público relatar situações vividas após ter sido apedrejado por familiares de uma vítima da Covid-19. Daniel Gatica pediu demissão em uma carta publicada no Facebook, onde afirmou: "Hoje digo basta, hoje sinto que fracassei".

Gatica disse que, no hospital de Orán, cidade no interior da Argentina onde ele mora e trabalha, o oxigênio era um "luxo" há mais de um mês e que estava "cansado de ter que escolher para quem dar um leito ou um tubo de oxigênio semivazio".

"Estou cansado de ter três mortes em uma tarde ou cinco em uma noite e saber que nunca há um leito na UTI", escreveu. "Quantas vezes eu dormi de pé ainda usando o EPI (equipamento de proteção individual) depois de atender 32, 40 ou 64 pacientes."

 "Tudo para quê? Receber isso... um ataque físico", afirmou, referindo-se às pessoas que lançaram pedras contra ele ao saber da morte de um ente querido. "Não aguento mais." Ele estava do lado de fora do hospital dando notícias de um paciente a seus familiares quando parentes de outro paciente foram informados que ele havia morrido.

"Dois indivíduos desajustados começaram a jogar pedras onde eu estava. Uma passou a alguns centímetros do meu rosto e quebrou um vidro. Outra caiu no meu pé. Só não aconteceu algo pior graças aos familiares dos outros pacientes que me protegeram e contiveram os dois”, contou durante entrevista à um veículo de comunicação .

Interior do país

A publicação do médico chamou a atenção do país para a dramática situação no hospital San Vicente de Paul, que não só atende os 85 mil habitantes de Orán, mas dezenas de milhares de pessoas que moram nas cidades vizinhas. Orán é a segunda cidade mais populosa da província de Salta, ao norte do país, na fronteira com a Bolívia.

A falta de leitos, medicamentos, oxigênio e profissionais de saúde fez com que o índice de mortalidade ali chegasse a 10% dos pacientes infectados, enquanto nacionalmente a taxa é de 2,1%.

Assim como outras cidades do interior, Orán ficou sobrecarregada quando o novo coronavírus começou a se espalhar fora de Buenos Aires. A capital argentina chegou a concentrar mais de 90% dos casos e, agora, está perto de 50%.

Apesar de a Argentina ter sido um dos países que melhor conteve a expansão do coronavírus, graças a uma quarentena rígida que foi imposta assim que a pandemia chegou em março, a situação mudou drasticamente em poucas semanas.

A Argentina chegou a bater o recorde de infecções e mortes diárias no planeta nos últimos dias, um aumento que é reflexo do esgotamento e relaxamento de muitos argentinos com a 

Socorro

A carta de Gatica teve ampla repercussão na mídia argentina e levou as autoridades nacionais a enviarem mais socorros ao hospital.

Em conversa com a BBC News Mundo, serviço em espanhol da BBC, o médico disse que esta ajuda já permitiu reduzir a taxa de ocupação do hospital de mais de 100% para 65%.

*Com informações BBC News Brasil

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