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"O dano social foi pior que o dano para minha saúde", diz paciente curada de Covid-19 em Uberaba

A paciente conta que surgiram postagens insinuando que ela estava frequentando festas e academia e até mesmo entubada e morta

Carol Rodrigues
Publicado em 08/04/2020 às 18:04Atualizado em 18/12/2022 às 05:31
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“No meu caso, em termos de sintomas, foi bastante tranquilo. O pior mesmo foi a repercussão social que teve aqui [em Uberaba] e o pânico, que era esperado, mas… ”, conta a primeira paciente com teste de coronavírus positivo em Uberaba, durante entrevista à Rádio JM, na manhã desta quarta-feira (8). O nome da entrevistada foi preservado a pedido dela.

A jovem, de 23 anos, retornou de Londres para passar férias no Brasil. A advogada mora e trabalha na capital da Inglaterra desde outubro do ano passado. Ela acredita que adquiriu o vírus no aeroporto ou no avião, já que os amigos londrinos e companheiros de viagem não tiveram a doença.

“Já tinha casos em Londres, mas estava tudo normal. Eu estava trabalhando normalmente. O lockdown [bloqueio total da cidade] ainda nem tinha sido decretado”, explica.

A amostra para o exame da jovem foi colhida na casa da família dela, em Uberaba, por laboratório particular, em 16 de março. O pai, que é médico, mostrou-se preocupado com o estado de saúde da filha e também incentivou a realização do teste.

Sintomas como dor de garganta e coriza apareceram cerca de uma semana antes, mas o teste precisou esperar pela dificuldade em encontrá-lo. O resultado positivo saiu dois dias depois.

“Quando eu consegui fazer o exame já estava praticamente curada. Meus sintomas foram leves, não tive febre nem dificuldade respiratória”, relata a entrevistada.

Embora tenha sido divulgado que o exame foi coletado em Ribeirão Preto (SP), o teste foi mesmo realizado em Uberaba. Segundo ela, a confusão se deu porque no Facebook ainda consta que ela mora na cidade do estado de São Paulo, onde fez faculdade.

A paciente não fez exame de contraprova. “Não é fácil conseguir o teste”, pontua novamente. E complementa: “Pode ser que eu fosse um falso positivo, mas preferi tomar todos os cuidados, tanto que minha família não foi contaminada.”

Os cuidados incluíam ficar isolada no quarto, receber a comida na porta do aposento, comer com talheres separados e colocar todas as roupas - inclusive as de cama e as toalhas - em saco de lixo para serem lavadas separadamente.

Mas o verdadeiro problema foi no mundo virtual. A paciente conta que surgiram postagens insinuando que ela estava frequentando festas e academia e até mesmo entubada e morta.

“Na postagem que insinuavam que eu estava morta, usaram uma foto minha de preto. Nem era a foto que eu usava de perfil. Vasculharam minhas redes para achar.”

Foi então que ela desativou as redes, até para bloquear o assédio. “Estava recebendo muitas solicitações de amizade e mensagens.”

O fato de o pai ter avisado a colegas de profissão que a filha estava com Covid-19, como forma de prevenção, pode ter levado à identificação jovem. “Mesmo que a mensagem não trouxesse meu nome”, salienta.

Há mais de um mês, a advogada não sai de casa, mesmo após ser considerada curada pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Em parte, por receio devido aos ataques que sofreu nas redes sociais.

“Muitas fake news que atacavam eu e minha família.”

 

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