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O que podemos aprender com a gripe espanhola no combate à Covid-19?

Historiadoras apontam semelhanças que entre as duas pandemias e a vantagem do isolamento social

Publicado em 31/03/2020 às 13:00Atualizado em 18/12/2022 às 05:20
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No início do século passado, após a Primeira Guerra Mundial, os países enfrentavam um inimigo comum e ainda mais letal: a gripe espanhola.

Segundo reportagem do jornal O Globo com a historiadora Mary del Priore e a pesquisadora Dilene do Nascimento, da Fiocruz, a estimativa é que a doença matou cerca de 50 milhões de pessoas, 35 mil delas só no Brasil.

O que aconteceu no passado parece ter efeitos semelhantes atualmente. Segundo o Imperial College de Londres, o coronavírus pode matar até 1,8 milhão de pessoas.

Muito do que aconteceu se a semelhança com a reação que vemos à pandemia de coronavírus hoje. Desde a descrença da população à desinformação disseminada, inclusive, por setores do governo.

Comparativo entre pessoas doentes com a gripe espanhola e leitos para tratar pacientes com Covid-19

A gripe espanhola, que iniciou em 1918, chegou a matar apenas no Rio de Janeiro 15 mil pessoas em poucos meses, 35 mil no Brasil, até o presidente Rodrigues Alves, que não chegou a tomar posse pois morreu antes.

Infelizmente, uma semelhança com a gripe espanhola, e que vemos ainda hoje, é que parte da população é descrente sobre a gravidade da doença.

Onde tudo começou

Historicamente, não se sabe se a gripe começou na Europa nos EUA, mas um dos fatos que mais marcaram este período foi quando o governo americano organizou um desfile na Filadélfia na época da gripe, o que levou a várias mortes pela falta de isolamento. Outros locais que mantiveram o isolamento também recuperaram economicamente mais rapidamente, tanto no Brasil quanto no mundo todo. Atualmente, o isolamento social é a principal arma defendida pelos cientistas e governos contra o coronavírus.

Passeata na filadélfia que pode ter acelerado o pico de contágio na época da gripe espanhola e passeata do dia da mulher em madri (2020), que também contribuiu para propagar o coronavírus

Na época da gripe, segundo as historiadoras, muitos países censuraram informações de número de mortos, para não demonstrar fraqueza no contexto de guerra. Pelo visto as fake news já existem bem antes do que imaginamos. Elas citam que os alemães aprimoraram o submarino. Na época, a notícia disseminada era que a gripe tinha sido criada pelos alemães para ser espalhada aos países inimigos. Algo semelhante aconteceu neste ano com pessoas acusando os chineses de ter participação na criação do vírus e da sua proliferação no mundo.

Quando a gripe chegou no Brasil, a população apenas se conscientizou sobre a pandemia após as primeiras mortes. Relatos de jornalistas e historiadores descrevem que, na época, carroças recolhiam lixos e corpos pelas ruas e casas. Além do problema médico, a pobreza também aumentou. Nas principais capitais, houve um temor de ataques de pessoas na pobreza em regiões mais ricas e também em comércios.

Fake News

Várias tentativas de curas milagrosas também surgiram. Xaropes, cápsulas e outras misturas caseiras. Foi durante a gripe que uma dessas misturas ficou famosa, passando por diversas adaptações até chegar ao que consumimos hoje. A caipirinha. Segundo o IBRAC (Instituto Brasileiro da Cachaça), a crença era que misturar mel, alho, limão e cachaça combateria a doença.

Segundo as historiadoras, o Brasil teria acordado para a gravidade da gripe com as ações de diversos médicos, dentre eles Carlos Chagas. Ele teria ido para o interior do país para curar os mais pobres que viviam em periferias. Ele e outros profissionais de saúde chamam atenção para estabelecer métodos como haviam vivenciado e tomado conhecimento nos EUA: A quarentena e isolamento em Navios. Algo semelhante ao isolamento vertical proposto pelo governo do país. Carlos Chagas criou mais formas de assistência aos doentes, como postos de assistência e hospitais. Vale lembrar que na época, não existia o SUS ou muitas instituições para atender a demanda de doentes.

Para quem não sabe, Carlos Chagas foi quem descobriu a tripanossomíase americana, conhecida como doença de Chagas, entre outras tantas colaborações do infectologista nas questões sanitárias.

No Rio de Janeiro, cerca de 15 mil pessoas, cerca de 66% da população, foi infectada. Apesar disso, o Brasil soube aproveitar do momento para se reconstruir. 

O que mudou?

Com isso, passou a contar com apoio de outros países para investir na industrialização. Chegaram novas tecnologias, para armamentos e o automóvel. Isso fez com que o Getúlio Vargas pedisse auxílio dos Estados Unidos. Aumentou o número de pessoas que saíram do campo e foram para a cidade. O Brasil se beneficiou do fato de estar fora das guerras.

Na época da gripe, o isolamento tornava tudo mais difícil. Atualmente, a tecnologia auxilia a troca de informações. Desde a comunicação com outros cientistas de forma imediata até a manter o contato com parentes.

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