No país do futebol

Está chegando, mais uma vez, a Copa do Mundo e, com ela, a oportunidade de conquistarmos o hexa. É verdade que temos muitos problemas precisando de solução, mas é melhor deixarmos tudo por enquanto, pois agora é torcer para que a taça da FIFA venha para o Brasil.

Se nos tornarmos hexacampeões, a violência que tem marcado nosso país e o crescimento dela a olhos vistos serão jogados sob o tapete. E enquanto o cidadão comemora, os delinquentes continuarão agindo, abastecendo as primeiras páginas dos jornais com notícias de roubos, assassinatos, incêndios em ônibus, tráfico de drogas e assuntos afins.

A saúde pública continuará a ser péssima, e o sofrido cidadão permanecerá em filas intermináveis à espera de um socorro que talvez não chegue a tempo.

Professores e homens encarregados da segurança pública permanecerão com seu irrisório salário, proporcional à importância com que têm sido vistos pelo governo, sem possibilidade de aumento (nem de salário, nem de importância). E, se fizerem greve, serão punidos e dispensados de seus cargos.

As rodovias permanecerão com seus buracos e sem sinalização adequada. A menos que os motoristas paguem insignificantes pedágios ao longo daquelas que são perfeitas, uma vez que outros impostos não são suficientes para deixá-las assim.

E os aposentados e pensionistas? Ingenuidade pensarmos que nossos dirigentes querem resolver essa situação. O problema não se resume ao aumento de 7,72 de agora, mas compreende o sistema previdenciário como um todo.

Pessoas envelhecem mais depressa que soluções imediatistas apresentadas para solucionar a questão previdenciária. Um aumento agora é paliativo. Haverá um tempo em que o número de aposentados será maior do que a massa de trabalhadores. Não haverá mais como o sistema previdenciário ser sustentado.

E seria de boa índole levantarmos agora tais questões, já que o que nos importa é que o Brasil se torne hexa? Isso ainda é pouco para o País do Futebol. Vamos ter que batalhar sempre: depois disso, estaremos torcendo, no mínimo, até o Brasil conquistar o deca.

Afinal, cada vez que o Brasil se torna campeão, todos os nossos problemas são resolvidos ou... esquecidos. A euforia da vitória anestesia momentaneamente a grande massa.

(*) membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro