ARTICULISTAS

No país do futebol

Nunca consegui gostar de futebol. Até me esforcei

Marília Andrade Montes Cordeiro
Publicado em 31/05/2014 às 19:00Atualizado em 19/12/2022 às 07:32
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Nunca consegui gostar de futebol. Até me esforcei. Inutilmente.

Aos 15 anos, quando comecei a namorar meu garboso atleta de futebol e estudante de Medicina, ainda ia assistir alguns duelos entre Engenharia X Medicina nos jogos universitários. Era delicioso! Todos aqueles jovens saudáveis e atléticos correndo atrás da bola e nós, a torcida, delirando... Quase comecei a entender um pouco.

Depois de casados, nossas tardes de domingo eram no sofá da TV, assistindo a qualquer partida numa transmissão sempre duvidosa.

Eu deitada no sofá, lia alguma coisa, não ousava nem comentar o jogo, pois jamais conseguia entender para onde a bola rolava e se era o time “dele” que estava prestes a fazer o gol.

Às vezes, entediada, olhava de relance o jogo e ficava admirando nossos atletas de short curtinhos e colantes que modelavam pernas musculosas e “derniere” polpudos, esculpidos no jogo duro e sem muita musculação.

E então, cochilávamos em paz.

Eu, sonhando com os formosos atletas e ele, imaginando que, talvez quem sabe, poderia ter sido um daqueles jogadores (Leão, Sócrates, Rivelino...)

Vieram as Copas de 78 (Argentina), 82 (Espanha) e 86 (México). Nós dois sempre planejando ir aos jogos. Mas sempre acontecia algo. Ou eu estava grávida, ou o dinheiro curto, ou não podíamos deixar as crianças e passou.

E ele sempre sonhando em ir ou em ter pelo menos um garoto para acompanhá-lo nos campos que ainda adora.

Eis que em 2014 tudo confluiu. A Copa é no Brasil, temos dois netos que gostam de futebol e temos condições de levá-los aos estádios.

Mas, espera aí?! Está louco! Melhor deixá-los torcer pela televisão. A transmissão agora é ótima e o país mudou radicalmente! A violência explodiu também nos estádios. As torcidas entram em conflito numa fúria de leões famintos. Já li que dos 20 clubes existentes, 17 já tiveram casos graves de brigas. E as manifestações? Vai que a coisa explode e nos pega de gaiatos. Melhor não.

Creio que o Brasil merece sim, sediar uma copa. Afinal, é inegável que a bola rola na veia de todo brasileiro (com algumas boas exceções), e que as crianças já nascem, por estímulo, dando um toquinho e torcendo por um time.

Porém, a omissão do governo federal e a mania de grandeza de nossos governantes fizeram com que nossa Copa dos sonhos, se transformasse na Copa das incertezas.

Não sabemos se os estádios vão funcionar, se os acessos serão liberados, se os aeroportos poderão receber os visitantes, se as malas vão chegar...

A grave omissão do governo fez com que deixássemos de criar mecanismos que pudessem coibir atos de grupos degenerados e anarquistas. E a falta de planejamento e de cobrança no andamento das obras gerou um estado de desânimo e de descrença que será difícil reverter faltando apenas poucos dias para o show começar.

Quem se atrever e puder pagar vá, e vou torcer para que tudo corra bem. Mas, ainda não será dessa vez que vamos assistir todos juntos a uma Copa do Mundo. Fica para a próxima! Há tanta incerteza que o melhor é aguardar...

(*) Mãe de família

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