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Nem tudo que reluz é ouro

Já fazia tempo esperava na fila reservada aos idosos. Eram muitos, mas nem todos assim tão idosos

Padre Prata
thprata@terra.com.br
Publicado em 13/11/2010 às 20:07Atualizado em 20/12/2022 às 03:14
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 Já fazia tempo esperava na fila reservada aos idosos. Eram muitos, mas nem todos assim tão idosos. Havia de tudo, inclusive os aproveitadores. Será que aquela gente toda se enquadrava naquela enumeração da tabuleta? Logo na minha frente uma adolescente. Em que grupo se classificaria? Provavelmente uma gestante. Só podia ser. Hoje é comum. Botar o carro na frente dos bois está se tornando “normal”. Há meninotas de 14 anos (ou menos) que já são doutoras com mestrado e doutorado naquelas “artes” que você sabe. O problema, porém, era que a fila não andava. Para distrair-me, passei a prestar atenção nas conversas do pessoal da fila ao lado. Num dado momento, um deles proclamou convict “Gênio mesmo só existiu um: o Pelé. O resto é perna de pau.” Lembrei-me daquele pai entusiasmado com o filho que, aos três anos de idade, já sabia que dois e dois são quatro. Outro gênio.

Pelo que ando vendo e ouvindo, terei que reciclar, urgentemente, meus parcos conhecimentos de linguística. A semântica do pessoal mais novo me deixa baratinado.  “Gênio” serve para tudo, até para quem marca um gol de letra. Hoje, qualquer um que se coloca um centímetro acima da média, é gênio. Esses autores de autoajuda que escrevem um livro atrás do outro são considerados gênios. Desovam mais de vinte livros por ano, repetindo os mesmos assuntos, dando os mesmos conselhos e vendem tudo. Um alto negócio. Adquirem fama e superlotam as livrarias.

Gênio é gênio. Não tem nada a ver com habilidades. O gênio provoca mudanças na história. Abre novos caminhos. Com ele a humanidade caminha com mais segurança e por outras veredas. Embora em atividades diferentes, gênios foram Aristóteles, Leonardo da Vinci, Jesus de Nazaré, Sidarta Gautama, Mozart, Beethoven, Newton, Freud, Marx e muitos outros dos quais você já ouvir falar tantas vezes. O autor do “Dom Quixote”, Cervantes, só escreveu  um livro que é considerado uma das obras-primas da literatura universal.

Chamar Pelé de gênio é confundir genialidade com habilidade. Os gênios se imortalizam. Com os habilidosos a História continua a mesma, não deixam sua marca.  Apenas chamam a atenção para um setor qualquer, causam admiração e desaparecem. Não deixam sua marca.

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