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Nem todo velho é ranzinza

Dias atrás publiquei uma oração de um velhinho para não se tornar ranzinza. Uma senhora disse-me, olhos brilhando de satisfação, ter tirado uma cópia

Padre Prata
thprata@terra.com.br
Publicado em 01/05/2010 às 20:43Atualizado em 20/12/2022 às 06:44
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Dias atrás publiquei uma oração de um velhinho para não se tornar ranzinza. Uma senhora disse-me, olhos brilhando de satisfação, ter tirado uma cópia e colocado no bolso do marido. Uma parenta minha disse, numa roda, que eu estava escrevendo o meu próprio retrato. Sem saber, aquela senhora estava me ajudando.

Dizem que o idoso tem sempre que implicar com alguma coisa. Ele pode ficar calado, mas continua agindo do mesmo jeito. É fogo ficar velho.

Consciente dessas peculiaridades senis, venho me policiando para não me tornar um velho rabugento. Antecipadamente, peço desculpas pelas recaídas.  Sei que não vou me livrar desse pecado próprio da idade. O que fazer? Velhice é velhice e fim de papo.

Com a consciência em alerta, pensei que estava livre do mal. Achei que estava livrando-me daquele mal etário. Ledo e puro engano. Descobri que uma das coisas que me irritam é a falta de educação que se nota cada vez mais alastrada. Passei, então, a entender as preocupações do Apóstolo Paulo quando, numa de suas cartas pedia aos cristãos de Éfeso e de Corinto que fossem “hospitaleiros”, “acolhedores”, “delicados”, “pacientes”, noutras palavras, que fossem “educados”. Hoje, é exatamente o que está faltando. No trânsito é que se nota a falta de cortesia, de atenção para com o passante. Não estou me referindo aos motoqueiros, isso é  um caso à parte, nem aos motoristas apressadinhos que descobriram ser a buzina uma arma que têm na mão. Estou me referindo é mesmo aos passantes.  Está em moda, agora, um tipo de bolsas para mulheres que se tornaram uma ameaça para os transeuntes. São bolsas enormes que elas trazem penduradas ao lado. Além de grandes, são pesadas.

A portadora, além do espaço físico que ocupa, há ainda o acréscimo de mais meio metro ocupado pela bolsa. Não tem como desviar. O choque é quase fatal. Não sei o que está lá dentro daquela mega-bolsa, mas a pancada é forte e, de encontro ao peito, desequilibra o passante. Como o número de pessoas que transitam cresce cada dia mais, é preciso muita atenção para desviar da trombada.  Agora, me vem a pergunta indiscreta: será que estou ficando ranzinza? Não tenho uma resposta segura, mas estou tomando todo cuidado para evitar essas pancadas imprevistas e, quando acontecem, não resmungar. Num desses ocasionais encontros nas ruas apertadas e apinhadas de gente, levei há dias uma pancada violenta. Aquela senhora, que ocupava um espaço de metro e meio, voltou-se para trás e agrediu-me: “velho cego” e terminou a frase ofendendo minha mãe. Como dizia minha avó Sinhá, “além de queda, coice”.

Tento ser educado e não reclamar dos acidentes e incidentes, mas, vez por outra, a gente derrapa. O melhor mesmo é perdoar-nos uns aos outros e tomar consciência de que as coisas vão piorar muito. Pouco a pouco vamos exercitando nossa paciência.

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