O Menino me estende a mão. E eu o fito sem entender
O Menino me estende a mão. E eu o fito sem entender. Em sua fragilidade de recém-nascido, sua mão procura a minha e quer-me amparar: eu, crescida no tempo, sinto o afago da mão-criança em minha mão, mostrando que a direção carecia ser tomada.
O Menino cresce ante meus olhos. Suas mãos agora carregam o pão que sacia os pobres, o pão que cancela a fome do outro pão, aquele que abre o caminho da vida que não se acaba, porque sua luz, acesa sempre, não se apaga. E ele, o Menino, agora crescido, reparte o Pão, e chama a si os famintos; e chama a si os desvalidos; e chama a si os sofridos nas carências que os homens cavam na carne dos outros homens; e chama a si os chorosos dos vazios que almas lancetam em outras almas; e chama a si os tristes de temores que os semelhantes despertam em semelhantes.
O Menino avulta no contorno que me enlaça. Olhos sombrios, aponta o Caminho, nem sempre plano, nem sempre suave, muitas vezes, porém, plantado de íngremes rochas que rasgam os pés, teimosos em seguir o Caminho que se abre na estreiteza, mas que anela o coração e o sacia com a água da vida, aquela que, leve e límpida, faz escorrer as nódoas da fragilidade, transformada, agora, em cristais indestrutíveis.
O Menino me olha e vejo a manjedoura, a simplicidade de uma vida que surge, derrubando a força do poder, que se acaba, porque plantado em areia movediça; surge aniquilando o fausto da superficialidade fácil e enganosa, porque seu nascimento se faz na “pedra angular” que sustenta a Casa do Pai: deixando de ser “Aquele que há de vir”, é, já, Aquele que veio para lavar as almas humanas e, no lavá-las, redimir dos pecados os que acreditaram nEle.
Nasceu o Menino. Sua mão, pequenina e frágil, aponta a esperança: o Menino jamais poderá deixar de nascer. Precisará nascer sempre. Como as águas que escoam e ressurgem para saciar a sede da vida. Precisará nascer sempre, renovando o sacrifício de cumprir um ritual, um trajeto necessário, na passagem que se faz espera de eternidade, no ir e vir sem fim: nascer, viver, morrer, e re-nascer, e re-viver, e re-morrer, o círculo fechando-se e abrindo-se a cada ciclo da renovação de Cristo.
O Menino jamais poderá deixar de nascer: assim a humanidade verá em sua presença, constantemente, o sacrifício que se renova, de estar no aqui e agora, sem interrupção, a mão, ainda frágil, tentando abarcar as almas em ternura infinita.
Que o Menino-Deus faça de sua vida um eterno Natal.
Que 2012 só lhe proporcione, e a seus familiares, alegrias e paz.
(*) Educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças; membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro