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Na rua, meninos...

Os níveis de violência crescem assustadoramente nas grandes cidades

Terezinha Hueb de Menezes
Publicado em 23/07/2011 às 20:29Atualizado em 19/12/2022 às 23:13
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Os níveis de violência crescem assustadoramente nas grandes cidades. Essas se convertem, aos poucos, em imensos presídios, como têm mostrado, já, várias reportagens: todos nós nos vamos transformando em prisioneiros de nossas próprias casas e, principalmente, prisioneiros de incontroláveis medos.

Se, antigamente, o medo vinha da presença de estranhos/adultos, hoje, amplia-se e altera-se o panorama. Antes crianças temiam crianças, crianças temiam adultos, adultos temiam adultos. Hoje, acrescente-se: adultos temem crianças.

Os meninos de rua aí estão, normalmente em bandos, ocupando praças e ruas. Mal vestidos, mal cheirosos, sujos e abandonados à própria sorte. Agredindo, porque agredidos. Pelas famílias, pela sociedade, pelo sistema. Aprendem, desde cedo, a ouvir insultos, por isso insultam. Provam, desde cedo, a injustiça social, por isso se julgam no direito de criar suas leis e fazê-las cumprir. Sentem, desde cedo, na pele e na alma, o espinho do desprezo, da indiferença, por isso desprezam, por isso rejeitam, por isso são indiferentes ao que os outros, os bem aquinhoados, pensam ou sentem.

São faces opostas da realidade, e o que se faz para modificar a situação é insatisfatório. São poucas as instituições adequadas – que ofereçam condições de ajustamento social, de educação e crescimento, através de um processo educativo amplo que possa preparar o menor para uma vida digna. Fala-se muito, promete-se demais, porém a ação eficaz inexiste.

Crianças continuam no abandono, sem ter onde dormir, sem ter o que comer, vivendo de furtos, ora vultosos, ora reles – um boné, um par de tênis, uma camiseta – muitas vezes pelo simples prazer de transgredir/agredir a sociedade que as forjou. Crianças continuam, cada vez mais, embrenhando-se no mundo das drogas, buscando fugir dos pesadelos do cotidiano, ou talvez, quem sabe? cavar castelos de sonhos. Crianças continuam sendo exploradas e manipuladas pelos marginais, posteriormente descartadas em “queima de arquivo”.

Na verdade, em vez de nos causar medo ou repulsa, a situação deveria causar-nos pena: pelo que poderia ser e não é; por sementes que, na certeza, apodrecerão nos caminhos ou serão trituradas pelo sistema que não ajuda, mas pune; por seres que, em potência, carregam as mesmas possibilidades de outros, esmagadas, porém, pelo descaso e rejeição.

A situação deveria causar-nos, isso sim, remors todos fazemos parte de uma só cadeia, argolada pelo medo e, talvez pior, pela omissã somos espectadores, simples espectadores, vendo crianças, já marginais, sendo trabalhadas na forja de um futuro inexorável de bandidagem.

(*) Educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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