Vou entrar na onda. Não há como fugir. Vou falar de futebol, do nosso futebol, dessa onda que nasce nos campinhos das fazendas
Vou entrar na onda. Não há como fugir. Vou falar de futebol, do nosso futebol, dessa onda que nasce nos campinhos das fazendas e termina nas grandes cidades e vai arrastando tudo como um irresistível tsunami. Para muitos o gramado verde de um campo de futebol é como um imenso sofá onde extravasamos nossas mágoas, nossas revoltas, nossos ódios. Por outro lado, confortável divã onde uma bola rolando nos enche de alegrias e esquecemos de nossas tristezas, de nossas dores, do nosso desemprego, de nosso salário de fome.
Terça-feira fui ver o jogo Brasil e Coreia do Norte. Iria ver jogar o maior time do mundo. De um lado, o Brasil com seus jogadores “internacionais”, nadando em salários nunca dantes vistos; do outro lado, os orientais, nem se sabe se jogam ou não de graça, uma juventude sem fama e sem nome. Golias e Davi. Prognósticos? Cinco a zero, quatro a um, seis a dois e por aí. E veio a decepção. Nunca se sabe o que se passa na cabeça de um treinador nem os interesses que agem por trás. Ignoro as razões de algumas convocações. Luís Fabiano, por exemplo. Sem recursos técnicos, reclamador, nervosinho, batendo sem dó e sem razões. E a gente sabe que, melhores do que ele havia uns três aqui no Brasil. Por onde andava o Kaká e o meio-de-campo? O empate foi uma injustiça para aqueles meninos de vermelho se matando por amor não sei de quem nem de quê. Por que não levaram o Ganso, o Neymar, o Ronaldinho? Seriam piores do que o Cleberson? Quem era aquele tal de Grafite? Onde joga? Em que mundos, em que estrelas, em que lua? Benza Deus! Um treinador mal-educado, sem diálogo, protegendo amigos. Só faltou levar o Vampeta...
De 1938 até o dia de hoje, vi todas as seleções. Pelo rádio ou pela TV. Desde a seleção de Ademar Pimenta e dos jogadores Leônidas, Domingos da Guia, Perácio, Romeu; logo em seguida vieram as outras. Como se esquecer do Feola, do Didi, do Garrincha, do Pelé, do Gilmar? Como não se lembrar do Rivelino, do Tostão, do Gerson, do Djalma Santos, do Nilton Santos? Não há lugar para citar tanta gente boa.
Nas seleções mais antigas, parece que os jogadores eram mais nossos. Jogavam todos aqui no Brasil. Não ganhavam fortunas. Não eram mercenários. Era a camisa, era o verde-amarelo, era o hino que todos cantavam. Sabíamos em que times jogavam. Hoje, apenas o Robinho é brasileiro, o resto é estrangeiro, poucos sabem onde jogam. Acabou a mística. Globalizaram o futebol.
Pode até acontecer que o Brasil ganhe essa Copa. Tudo pode acontecer. Só que não acredito. Mas, como a esperança é a última que morre, quem sabe as coisas mudam, mesmo com a cabeça dura de nosso Dunga?
Reli esta crônica que acabei de escrever. Achei uma droga. Mas vai assim mesmo. Que o leitor me perdoe. Não há mais tempo para escrever outra...