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Não é ficção

A novela é Caminho das Índias. A personagem, Zeca. Jovem mimado, superprotegido pelos pais

Terezinha Hueb de Menezes
Publicado em 03/08/2018 às 10:18Atualizado em 17/12/2022 às 04:32
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A novela é Caminho das Índias. A personagem, Zeca. Jovem mimado, superprotegido pelos pais. Um dos defeitos, gerando outros: falta de discernimento – tanto dele quanto dos pais. Erros constituem acertos. Cenas: atitudes caracterizadas pelo vandalismo, pela violência, o rapaz quase sempre acompanhado da “gangue” de igual teor: agressões brutais, desrespeito ao outro, em ataques imotivados.   Um dos fatos: baderna incontrolável em sala de aula, possivelmente de Ensino Médi bolas de papel, algazarra, desrespeito, sob a liderança de Zeca. A professora pede, insiste na necessidade de se estabelecer a ordem na sala e, como resposta, recebe do líder uma “estojada” no rosto, que fica marcado pela agressão. Um dos alunos que defende a mestra é depois agredido violentamente pela gangue, sempre liderada pelo jovem.   Após a agressão à professora, a mãe é chamada à escola. Fica inconformada: à escola cabia resolver o problema, e, não, importunar os pais por incidente tão banal. Da mesma forma, após a agressão ao colega, Zeca suspenso, eis que o pai, advogado, procura a mestra, ameaçando-a e exigindo a retirada do castigo, por meio de liminar. Pena que a direção da escola não tenha apoiado, como precisava, a professora...   Outra cena: o oficial de justiça procura o moço para entregar-lhe intimação. O pai responde que o filho está viajando e, quando este chega, chama-o por outro nome para tapear o oficial e assim livrar o moço. Pai e filho comemoram o feito. E por aí vai. Você que me lê pensa que tudo isso é ficção? Engano. Tem acontecido nas escolas, tanto públicas quanto particulares: uma significativa parcela de pais defende os filhos em quaisquer circunstâncias. Os culpados são os outros. Os filhos são ingênuos, não agem por maldade. E a família não é responsável por suas atitudes. No pensamento dela, a função da escola é educar e, nesse sentido, falha quando não consegue.   Engano ainda maior! A educação, como dizem os mais antigos, vem do berço, vem de casa. Aluno educado é educado porque recebeu a adequada orientação dos pais; aluno violento, com certeza, quase sempre se origina de pais permissivos que vêem no filho um santo, ingênuo e puro. Alguma atitude errada? Fruto de criancice que passa com o tempo. Só que não passa. É impossível a formação de uma personalidade sadia sem a noção do certo e do errado; sem a noção do discernimento. E isso compete aos pais, à família, desde os filhos pequenos.   Que rumo tomará a personagem Zeca? Possivelmente aquele que os pais e ele próprio cavaram. Mais dia, menos dia, o retorno pelo feito e pelo não feito virá: ação incorreta e violência, aliadas à omissão, sem rumo certo, sem nenhuma noção, formam o conteúdo para que, a qualquer momento, chegue o ajuste de contas. Não sai incólume quem apenas pratica o mal, acobertado pelos pais: na armadilha, podem cair facilmente aqueles que a armaram. É a lei inexorável da vida...   (*) educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro [email protected] Terezinha Hueb escreve aos sábados neste espaço  

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