ARTICULISTAS

Não é fácil ser cristão

Quer queiramos ou não, estamos todos empenhados numa caminhada

Padre Prata
thprata@terra.com.br
Publicado em 16/10/2010 às 21:26Atualizado em 20/12/2022 às 03:45
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Quer queiramos ou não, estamos todos empenhados numa caminhada. Não existe ninguém estacionado no tempo. São muitos os caminhos, mas todos eles levam a um determinado “ponto”. Não fosse assim, os caminhos deixariam de ser caminhos.

O objetivo dos fundadores das grandes religiões foi justamente mostrar o Caminho. Buda, Confúcio, Maavira, Moisés, Zoroastro, Jesus, Maomé, cada um deles a seu modo, ensinaram como se comportar na caminhada. Deixaram bem claro o que fazer para não se perder pelos desvios.

Não é fácil essa caminhada. Jesus, por exemplo, foi muito claro. Procurou despertar nossa consciência para o que é realmente fundamental: a salvação. “Que adianta ao homem possuir tudo para se perder no fim?” É tolice trocar o definitivo pelo passageiro.

Foi-nos pedido uma mudança radical em nosso comportamento. É uma luta difícil. Aliás, não nos foi pedido nada fácil. Não é fácil gostar dos outros como eu gosto de mim mesmo. Não é fácil perdoar aos que procuram me destruir. Não é fácil servir sem esperança de retorno. Ser tolerante, hospitaleiro, compreensivo, compassivo, paciente, misericordioso, leal (por favor, não confunda lealdade com franqueza. Franqueza é falta de educação...), tudo isso é muito difícil. É uma violência contra mim mesmo. Sei que alguns poucos chegam perto do que Ele pediu. Nós,  pecadores, lutamos com altos e baixos, caindo e nos levantando. Machucamos nossos joelhos nas pedras pelos caminhos. Nós nos ferimos. É um caminho de “suor, sangue e lágrimas”.

Seria muito bom se, vez por outra, perguntássemos a nós outros se somos cristãos realmente cristãos. Gostamos muito de rótulos. Católico, protestante, evangélico, espírita, tudo isso são rótulos. O rótulo, às vezes, até se torna motivo para discriminação. Gostamos de exibir “nossa verdade”. Somos os certos. Os outros são todos errados. Ora, o que realmente vale não é o rótulo, é o que está dentro. Não seremos julgados pelo rótulo, mas pelo que vai no coração. Estive doente, preso, faminto, abandonado, desprezado, explorado,  e você não foi me ver...

É pura hipocrisia julgar-me cristão se guardo ódio dentro de mim, se não perdoo, se sou amargo, se nego minha palavra, se afasto minha mão, se tranco minha porta.

É pura hipocrisia julgar-me cristão se não sou hospitaleiro, coração aberto, se julgo os outros errados e a mim sempre certo.

É pura hipocrisia julgar-me cristão se não respeito o espaço do outro, comentando maldosamente seu comportamento, suas atitudes, seu modo de ser.

Procuro ser feliz. Todos nós. Acontece, porém, que felicidade não vem de fora. Vem de dentro. De dentro de mim. Da escolha do caminho. E isto acontece quando deixo de girar ao redor de mim mesmo e me volto para o outro. Sou feliz no momento em que me coloco ao lado do outro, quando olho o outro com-paixão.  “A felicidade não está em receber, está em doar-me”.  Isto aí já foi dito há dois mil anos nos caminhos áridos da Galiléia.

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