ARTICULISTAS

Mulherão, mulherzinha, mulher

Bendigo a Internet pelo seu lado bom. Pelos belos textos que me coloca em contato com autores contemporâneos como Jabor, Luís Fernando Veríssimo

Vera Lúcia Dias
Publicado em 14/03/2010 às 14:38Atualizado em 20/12/2022 às 07:35
Compartilhar

Bendigo a Internet pelo seu lado bom. Pelos belos textos que me coloca em contato com autores contemporâneos como Jabor, Luís Fernando Veríssimo ou Martha Medeiros. Falam sobre nós, mulheres, de uma forma me estimula também a escrever sobre esse tema neste 8 de Março.

Medeiros extrapola o conceito de MULHERÃO, que para muitos significa apenas peitos e bundas nas medidas certas. Mulherão é aquela que faz o pescoço do homem entortar. Mulher que desperta o apetite sexual e que chega a se dar nome de fruta: Melancia, Morango e por aí afora. Mulher de vitrine, de Big Brother, de Playboy. Equipada para despertar o desejo de quem muitas vezes ela nem chega a ter cacife fisiológico para satisfazer...

Algumas delas, na falta de atributos interiores, propagam os exteriores e, quando abrem a boca, não passam de "bela viola, mas por dentro pão bolorento"...

A MULHERZINHA age com estratégia diferente. Vive procurando um provedor e para isso se vulgariza e se prostitui nos moldes antigos ou modernos. É "barraqueira, "dá em cima", anda atrás o tempo todo e, no seu vale tudo, desestabiliza a vida dos outros. Arranja barriga para prender. Usa os filhos para atazanar. Não se profissionaliza e, se possível, tem na pensão garantida por lei sua principal fonte de renda.

No fiel da balança encontramos a MULHER, aquela que não é mulherão nem mulherzinha. Que segue por aí no anonimato, matando vários leões por dia, tentando se equilibrar nos seus papéis de esposa, profissional, mãe de três gerações (dos filhos de suas entranhas, dos pais que estão envelhecidos ou adoecidos e dos netos que lhes são dados de presente). É aquela que ainda encontra tempo entre uma reunião de escola e uma consulta médica de terceiros para ser voluntária em alguma entidade...

Se solteira, é independente, mas não auto-suficiente e, ao contrário do que muitos pensam, não desistiu do amor.

Não precisa do provedor porque seu trabalho lhe garante casa, carro, viagens e seus cursos. Ela quer, sim – e muito –, é um companheiro. Não se importa com papel passado porque aprendeu que ele não garante o amor nem a boa convivência. Não quer ser dona nem ter dono. Sabe que para seres humanos escrituras não funcionam.

Não se empolga com noites quentes interrompidas nas madrugadas em luxuosos motéis. Ela quer alguém que queira e possa "dormir de conchinha" e esperar o dia nascer.

Para não dizer que isso é ideia minha, sugiro a quem interessar possa a leitura do livro Fica Comigo Para o Café da Manhã. Ele é fruto da tese de Doutorado de Noely Montes Moraes, na PUC de São Paulo, e fala do mito amoroso e da mulher contemporânea.

Não é apelativa no vestir, mas não perde sua graciosidade. Continua feminina, seja num jaleco branco, num macacão de Samu, numa farda de bombeira, de PM ou num avental de doméstica.

Não desfila por aí seminua, mas se desnuda sem pudor para o seu amado. Aprendeu a conciliar a dama com a fêmea que carrega em seu íntimo.

Valoriza a maternidade. Quer filhos, sim, mas como vínculos de relações de amor e compromisso. Não quer começar uma família "em qualquer de repente". Ela quer garantir aos seus filhos o direito de crescerem ao lado de um pai. Quer construir um lar que seja "ninho de aconchego e amor" e quer que sua família "comece e termine sabendo aonde vai"...

Considera a vida como a arte dos encontros e, se não encontra parceiro para realizar seus sonhos de amor, segue com tranquilidade e sem rancor.

A mulher de verdade toma as rédeas de sua própria vida, faz a sua história e ajuda a escrever a História da Humanidade. Faz a diferença para quem com ela convive, mesmo que não seja para sempre. É como a árvore frondosa à beira da estrada, oferecendo sempre sombra e aconchego a quem dela se aproxima.

Penso que para muitos e muitas, ao lerem esses conceitos, possam me considerar ultrapassada ou em descompasso com meus títulos acadêmicos, mas o que fazer, se coube à minha geração descobrir em meio a profundas transformações sociais o equilíbrio entre o antigo e o moderno?

Caros leitores e leitoras, sei que não sei muito, só sei que, como canta Milton Nascimento, cada uma de nós "...é uma mulher que merece viver e amar como outra qualquer do planeta, / ...mas é preciso ter manha / É preciso ter graça / É preciso ter sonho sempre. / Quem traz na pele essa marca / Possui a estranha mania / De ter fé na vida..../ Mas é preciso ter força / É preciso ter raça...".

 

Mestre em Psicologia Clínica, terapeuta dos Lutos e das Perdas e palestrante

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Logotipo JM Magazine
Logotipo JM Online
Logotipo JM Online
Logotipo JM Rádio
Logotipo Editoria & Gráfica Vitória
JM Online© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por