Minhas amigas, meus amigos
Minhas amigas, meus amigos,
Parece que Deus às vezes nos força a mudar nosso estilo de vida, e para o nosso bem.
Quem me conhece, sabe o quanto sou inquieta – mesmo sendo muito calma – trabalhando exageradamente e, como diz minha irmã, sempre inventando mais atividades. E tudo isso, apesar do cansaço, me alegra muito. Mas há momentos em que necessitamos rever nosso estilo de vida.
E isso está acontecendo comigo por conta de uma visita inesperada que se instalou em meu ser: um linfoma. Por enquanto, não vou falar sobre o processo que temos passado, o susto que levamos, o sofrimento de minha família. Estou organizando minhas ideias para, posteriormente, relatar tudo o que ocorreu comigo e com meus familiares, o apoio, o carinho e, principalmente, as orações recebidas: acima de tudo, eu me entrego nas mãos de Deus, de Nossa Senhora, de Santa Terezinha e de meu Murilo.
E é num quase isolamento, na parte superior de minha casa – não posso correr o risco de contrair infecção – que tenho pensado muito em como precisamos valorizar mais as coisas simples da vida.
Pensando em tudo isso, lembrei-me do poema Viver a vida, de Jorge Luis Borges. Passo aos meus leitores apenas alguns pensamentos, já que o poema é longo.
“A vida é muito preciosa, e precisamos aproveitá-la hoje, a cada momento. Porque depois pode ser tarde.../ Se eu pudesse novamente viver a vida.../Teria menos pressa e menos medo./ Daria mais valor secundário às coisas secundárias./ Seria muito mais alegre do que fui./ Só na alegria existe vida./ Seria mais espontâneo... correria mais riscos, viajaria mais./ Contemplaria mais entardeceres.../ Subiria mais montanhas.../ Nadaria mais rios.../ Teria menos problemas reais... e nenhum imaginário./ Eu fui dessas pessoas que vivem preocupadamente/ Cada minuto de sua vida./ Claro que tive momentos de alegria.../ Mas se eu pudesse voltar a viver, tentaria viver somente bons momentos./ Nunca perca o agora./ Mesmo porque nada nos garante que estaremos vivos amanhã de manhã./ Se eu voltasse a viver/ Jamais experimentaria os sentimentos de culpa ou de ódio./ Viveria cada dia como se fosse um prêmio/ E como se fosse o último./ Daria mais voltas em minha rua, contemplaria mais amanheceres e/ Brincaria mais do que brinquei./ Teria descoberto mais cedo que só o prazer nos livra da loucura./ Tentaria uma coisa mais nova a cada dia./ Se tivesse outra vez a vida pela frente./Mas como sabem.../ Tenho 88 anos e sei que...estou morrendo."
Minhas amigas, meus amigos, meu atual momento é de parada. Parada que, com certeza, promoverá um enriquecimento espiritual em mim. Vou caminhando, como tenho pregado, vivendo um dia de cada vez. E chegarei lá, com a graça de Deus.
(*) Educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro