Não sei ao certo o que perdemos mais com o falecimento de Mons. Vicente: se o pai, o irmão ou o amigo. Ou se os três ao mesmo tempo
Não sei ao certo o que perdemos mais com o falecimento de Mons. Vicente: se o pai, o irmão ou o amigo. Ou se os três ao mesmo tempo.
Mons. Vicente assumiu a Paróquia São Benedito em 1962. Até então, a capela, bem antiga, na Praça Dr. Jorge Frange, pertencia à Catedral.
Assumida a nova paróquia, a partir de então, caminhou juntamente com o Colégio Nossa Senhora das Graças, fundado em 1958. Pode-se dizer que uma era continuação do outro e vice-versa, em intercâmbio mútuo.
Com o tempo, a capela não mais comportava as atividades paroquiais. Foi demolida. Idealizou-se, então, a construção de novo templo. Enquanto isso não acontecia – demandava muito investimento – foi construída uma capela de madeira, bem próxima, na Av. Francisco Pagliaro. Nela eram celebradas as missas semanais e os batizados. Aos domingos, o pátio do Colégio Nossa Senhora das Graças, inicialmente na Rua Veríssimo, posteriormente na Edmundo Borges de Araújo, acolhia os fiéis para as missas dominicais. E assim foi por longos anos.
Enquanto isso, Mons. Vicente, assessorado por paroquianos, inicia a construção do novo templo. Ao seu lado, como irmão, o querido Pe. Eddie Bernardes – que nos deixou prematuramente. E foram anos e anos de peleja, com campanhas constantes, o Murilo sempre ao lado do amigo, como presidente do Conselho Paroquial ou como simples paroquiano.
Para nós, do Colégio, era uma bênção constante, abrigar as missas dominicais.
Terminada a construção, inaugurada a nova igreja, Mons. Vicente continuou sua caminhada, passo a passo com a caminhada das famílias paroquianas.
Para todos nós, era pai, era irmão, era amigo. Sempre com as palavras certas nos momentos certos. Caracterizado por humildade extrema, nos mais de quarenta anos de convivência de nossa família com ele, não me lembro de ouvi-lo dizer não ou de se queixar de algo. Seu comportamento, sereno e amigo, sempre, era de um santo.
Acompanhou-nos como um irmão, os problemas de saúde do Murilo, confortou-nos como pai, após seu falecimento.
Já enfermo, não perdeu o ânimo nem a serenidade, doando-se à paróquia como vigário auxiliar de Mons. Benevente: cumpriu sua obrigação de sacerdote até o fim. Ele já doente, às vésperas da cirurgia a que se submeteria, cheguei a aconselhá-lo que parasse com as missas dominicais à noite. Com a mesma serenidade e espírito cristão de sempre, respondeu-me que não se cansava com a atividade.
A multidão que dele foi despedir-se mostra o quanto era querido. A homilia emocionada de Mons. Benevente retratou, em fala metafórica, os dons do querido Mons. Vicente, já às portas do paraíso
Tinha no Murilo um amigo inesquecível, a quem se referia sempre com o maior carinho, rememorando momentos da amizade que sempre os uniu.
Após seu retorno à paróquia, a convite de Mons. Benevente, o que muito o alegrou, chamada a cumprimentá-lo, repeti os versos simples de Roberto Carlos: “Eu voltei, agora pra ficar, porque aqui, aqui é meu lugar.”
Realmente, a Paróquia São Benedito era o local de aconchego do Pe. Vicente: aqui ele se sentia em casa, entre irmãos, entre amigos. E, com certeza, continua entre nós, em cada gesto aqui plantado, em cada palavra derramando ensinamentos e mensagens cristãs.
As mãos de Deus, certamente, já o acolheram na glória eterna.
(*) educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro