ARTICULISTAS

Minha querida Irmã Domitila

Irmã Domitila era pessoa carregada de luz

Terezinha Hueb de Menezes
Publicado em 28/10/2012 às 13:49Atualizado em 19/12/2022 às 16:38
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Irmã Domitila era pessoa carregada de luz, com brilho próprio intenso. Foi minha fada-madrinha, em meu ingresso na Academia de Letras do Triângulo Mineiro.

Desde os memoráveis tempos no Colégio Nossa Senhora das Dores, nós, alunas, víamos e acompanhávamos a trajetória literária de Irmã Domitila. Lembro-me de quando escreveu A Grande Pequenina, contando a história de Madre Anastasie. E nós, sorvendo cada pormenor daquele livro que também nos despertava para o exercício da escrita.

Acompanhei, com alegria renovada, cada publicação dos vários livros de minha mestra. E vieram muitos: Fonte Selada, Flor Intocada, Ao Entardecer, o Canto do Sabiá, Salmodias à Luz Crepuscular, O santo que me Encantou, entre outros.

É suave e enternecedora a forma com que Irmã Domitila tece seus poemas, abordando não apenas temas ligados à religião, mas também outros que desvelam a alma humana.

Apresento aqui um poema – Libertação – que retrata bem a delicada preocupação de Irmã Domitila, em face das preocupações interiores: “Abre portas e janelas / destranca-te. / Não tenhas medo / da devassa / de teus trastes, / coisas de nada, que ocultas / esparsas pelo chão / do barro que pisaste. / Deixa a luz entrar, / faze espaço /para o sol / e descobre / a nova rota / que verás estender-se / do outro lado, / além do que deixaste. / Abraça / o belo, / o amor / e te encontrarás / enfim / assim, / preparada, / de sonhos fantasiada / para recomeçar / e ser feliz.” No texto, percebemos Irmã Domitila apontando os caminhos para a verdadeira felicidade, por meio da libertação dos apegos terrenos, no processo metafórico de abrir portas e janelas para a entrada da luz, logicamente, presença de Deus em nós.

Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro, cadeira nº 30, era de uma grandiosidade ímpar seu interesse pela instituição, preocupando-se com suas atividades e os membros que a compõem.

Apesar dos seus noventa e nove anos, a memória privilegiada fazia com que contasse, em pormenores, lembranças, com nomes e fatos, de forma surpreendente. E como era agradável ouvi-la, terna e serena, tecer comentários sobre literatura em toda sua abrangência!

Disse sabiamente Guimarães Rosa: “As pessoas não morrem, ficam encantadas.” É nesse encantamento que se encontra Irmã Domitila, tornada raio de luz que se foi juntar à imensidão luminosa do reino do Pai. É nesse encantamento que Irmã Domitila estará escrevendo versos para que os anjos os declamem à Virgem Maria, em oferenda interminável. É nesse encantamento que, com certeza, olhando o lado de cá, estará velando por todos que a amam e choram sua ausência.

(*) Educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

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