Na verdade, ninguém gosta de errar. Não é mesmo agradável. Tenta-se, ao máximo, evitar o erro. Seguramente, é impossível nunca errar. Contudo, há aqueles que levam tão a sério a aversão ao erro que passam a se acreditar sobrenaturais. Passam a crer, já errando, que nunca erram ou que podem nunca errar.
A propósito. Certa feita, cinco amigos estavam no campo, na lida do gado. Um deles era daqueles que creem que nunca erram e que repudiam qualquer crítica que possa desvendar de si essa ilusão. Quente o sol, avistaram a certa distância um pé de Limão Capeta, como o chamavam por lá. E estava carregado de frutos grandes e maduros, permitindo mesmo que se confundisse com uma mexerica ponkan, o que seria uma delícia naquela hora. Foi quando o amigo que se via infalível exclamou de plano. Vejam, um pé de mexerica ponkan, e das boas! Então, um componente do grupo, nativo dali, advertiu. É, parece mexerica, mas não é. É Limão Capeta.
Quando, inconformado, de imediato reagiu o infalível. É mexerica, tenho certeza.
Todos, já cientes do modo do amigo, mantiveram-se retraídos no assunto para evitar polêmicas. Então, aquele que se achava infalível não se deu por satisfeito. Esporou o cavalo aproximando-se do vistoso limoeiro e colheu um fruto. Descascou. Levou-o a boca e, com cara de quem chupou limão, cuspiu. Mesmo assim, e para a surpresa de todos, logo exclamou: - Mas essa está azeda! Foi difícil para o grupo conter as risadas. Portanto, que era mexerica era, teria concluído o infalível.
Depois dele já distante, as gargalhadas correram soltas em face da recordação do episódio.
Pois é! Há mesmo os que creem que não erram nunca. Há os que colocam em si, inocentemente e de modo até imbecil, o peso de nunca errar. Tentar sempre evitar o erro é de bom proveito, mas nunca errar é algo impossível. Além disso, do erro tiramos muitas lições, muito aprendizado. Existem os laboratórios científicos para experimentos exatamente para operar experiências e dos erros tirar proveitos. Pesa por demais a pueril intenção de querer ser como um Deus. Aliás, até a divindade criou a sua perfeição no inexato da vida. Então, que saibamos evoluir a partir dos erros, nossos e alheios, pois eles sempre existirão. Ademais, a condição de aprendiz é muito mais confortável que a de Mestre. É certo.
Existem também aqueles covardes que nada fazem para não correr o risco de errar. Criam para si uma redoma que impede a exposição ao erro. De tudo dizem o contrário, apontam riscos e defeitos, para nunca se comprometerem com o eventual resultado negativo. Isso, contudo, embarga a evolução de seu ser.
Atentos devemos seguir. Afinal, já ouvi, o preço da liberdade é a eterna vigilância.
