Realmente fico assustado com o avanço da eletrônica. Sempre pensei em possuir um bom computador
Realmente fico assustado com o avanço da eletrônica. Sempre pensei em possuir um bom computador, um celular com os últimos recursos, enfim toda essa parafernália que nos encanta e nos põe abismados frente à capacidade criativa do ser humano. É de assustar. Gostaria de possuir tudo isso. Em parte, consegui. Um mínimo.
Acontece, porém, que me esqueço de que estou com 89 anos e não tenho mais “miolos” para por tudo isso dentro da cabeça. Do celular somente sei fazer e receber chamadas. Nada mais, nem tirar fotos sei. Do computador sei apenas fazer pesquisas e enviar e-mails. Mais nada. Nasci numa época diferente e não adianta tentar.
Apesar de minha supina ignorância, num momento de entusiasmo que não sei explicar, comprei um iPad2, não medi sacrifícios. Quando recebi a joia, sofri uma comoção de “ser dono de um iPad2”. Aprendi a ligar e desligar. Nadei numa euforia jamais sentida. Passava os dedos naquelas dezenas de aplicativos, ícones que não sabia para que serviam. Comprei um Manual de Instruções para principiantes com todas as dicas e explicações técnicas. E... foi só. Não progredia. Parei por aí mesmo.
Foi, então, que me lembrei de meu sobrinho, o Pedro, de apenas 9 anos. Quando viu a “maquina” aberta em sua frente, exclamou: “Tio Padre!!!” e se transfigurou. Seus olhinhos brilhavam e começou a lidar com o “fenômeno” como fosse seu velho conhecido. Não acreditei. Tive a impressão que já sabia tudo. Parecia que era dotado de um “chip” que lhe fora implantado não sei onde. Pelo menos se fosse em português, mas era em inglês, idioma do qual só sabia contar até cinco. Não precisava traduzir, ele já sabia. Não sei como, mas sabia.
Bem, para resumir tudo isso, ele se tornou meu professor. É estranho, quando ele abre o iPad, parece que entra em êxtase. Nas minhas dúvidas (98%), nos problemas técnicos, eu o chamo. Ele vem e em dois minutos resolve todos os impasses. Nasceu sabendo. Mas, pelo que tenho observado, não foi só ele. Toda a meninada, a partir dos cinco anos, nos dá lições em toda essa ferramenta eletrônica. Penso que são “ETs” disfarçados de humanos. Desligam-se do real e mergulham no virtual.
Uma coisa, porém, nos consola. Eles só entendem daquilo. Só se interessam pela eletrônica. Não leem um livro. São incapazes de interpretar um texto por mais elementar que seja.
Às vezes me surpreendo pensando no mundo daqui a uns trinta anos. Não estarei mais aqui para ver. Nem sequer imagino como será. O progresso eletrônico tem efeito multiplicativo. Todo o ritmo de vida será mudado, nossa alimentação, nossas roupas, nossos “livros”, nossos processos de comunicação. A educação será outra. O que é pior: haverá um aumento sem limites da violência. Afirmam os cientistas que daqui a 50 anos os homens não brigarão mais pelo petróleo. Brigarão pela água. E, então, virá o fim...
(*) Membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro