A revista Época, de 17 do corrente mês, trouxe matéria especial sobre Educação (o amigo Pe. Prata fez-me a gentileza de avisar-me sobre a reportagem), apontando problemas, falhas
A revista Época, de 17 do corrente mês, trouxe matéria especial sobre Educação (o amigo Pe. Prata fez-me a gentileza de avisar-me sobre a reportagem), apontando problemas, falhas e algumas possíveis soluções para a situação.
A matéria focaliza ainda posicionamento de jovens em face das questões que envolvem o Ensino Médio, mormente nas escolas públicas do país. Há depoimentos de estudantes, comentando sobre as próprias dúvidas quanto às opções a seguir, como cursos técnicos, ou o vestibular, tentando uma profissão futura. Questionam o estado de escolas e corpo docente, e a tendência de muitos em abandonar os estudos para dedicar-se ao trabalho. No fundo da questão, evidentemente, encontram-se o fator econômico e o descaso do governo.
A reportagem aborda a nova modalidade do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) como, segundo autoridades, uma das formas de diminuir o excesso de conteúdos no Ensino Médio, além de propor um trabalho concatenado nas várias áreas do saber. A tentativa é transformar o vestibular tradicional, repleto de excessivas disciplinas, com excessivos conteúdos, em formato que exija mais do aluno depreensão, compreensão e dedução das várias formas do conhecimento, de modo articulado.
Na minha ótica, é uma excelente iniciativa, ao que tudo indica, desde que a escola esteja preparada para isso, com professores capacitados e material didático de qualidade.
Mas o que me preocupa no Brasil são as medidas governamentais, sem uma base anterior: dia desses, vi uma reportagem sobre determinada escola, salvo engano, no Maranhão, denunciando a situação das crianças e de suas famílias (a mãe preparou os filhos para irem à escola, sem alimentação alguma: a pobreza da família só permitia uma refeição à tarde). A visão é deprimente: crianças, no período de estudo, bebendo água em excesso para aplacar a fome, ou deitadas na carteira, desanimadas e tristes, o professor – pobre professor! – tendo que liberar os alunos mais cedo porque a aprendizagem era nula. Criança com fome não aprende. A causa? A Prefeitura não prestara contas sobre a merenda escolar, provocando a suspensão da verba.
É válida a preocupação com o Ensino Médio, os jovens e o vestibular? Evidentemente que sim. Mas não podemos esquecer que, como na pequena cidade do Nordeste, há milhares de escolas de Ensino Fundamental sem condições de funcionamento. Para elas, resolveria mudar o vestibular ou mesmo o estilo de qualquer tipo de ensino posterior? Não seria necessário um trabalho de base, desde as primeiras letras até o ingresso no Ensino Médio? Não sendo assim, que estrutura muitos dos jovens teriam para enfrentar a modalidade de aprendizagem a lhes exigir, inclusive, postura crítica?
É preciso mudança? Mais do que urgente. Mas mudança que comece no alicerce, de modo contínuo e para todos. Fosse assim, não seria necessária a garantia do acesso à faculdade por meio de cotas: todos os estudantes, usufruindo da mesma oportunidade de frequentar boas escolas, estariam preparados para conquistar o espaço universitário.
*educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro