Quem nunca viu um menino atirando pedras, que atire a sua
Quem nunca viu um menino atirando pedras, que atire a sua. Atirei em mangueiras, por estilingue acertei vidraças e qualquer outra coisa de minha inocência infantil. Entretanto, quem vê uma criança palestina atirando pedras sabe que a inocência não mais existe, e sim o ódio étnico-religioso cravado pelas gerações que lutam pela terra prometida ocupada pelos israelitas. A pedra deles é a extensão de seu corpo, que fala de ódio, de ressentimentos, cujo imaginário social é o futuro liberto do Estado de Israel. Esqueceram, ou não querem se lembrar, que são descendentes de Sem – filho de Noé. Que de Sem se originou Abrahão e este teve os filhos Isaac e Ismail. De Isaac originaram-se os hebreus – israelenses, judeus –; de Ismail, os filisteus – palestinos –, que emigraram do território do Iraque – terra de Abraão – devido à fome. Os palestinos detiveram-se junto ao Mediterrâneo – a oeste da terra de Canaã – e os judeus foram para o Egito e caíram cativos dos faraós, seguiram mais tarde para a terra Santa, que à época já estava ocupada pelos palestinos. Saul foi o primeiro rei da terra de Israel, seguido de Davi e Salomão, que após a morte deste os seus herdeiros entraram em lutas divisionárias e se sucumbiram aos assírios e babilônicos. E que, agora, sucumbem aos interesses dos EUA, do Irã, da Síria, do Líbano, do Egito e da opinião pública, quando põem os palestinos como vítimas e os israelenses como algozes; ambos são vitimas de si mesmos, de suas intolerâncias, de seus radicalismos insanos. Quando Israel executa as crianças palestinas faz como os palestinos, que lhes dão uma pedra. Ambos executam o futuro, como se executam outras crianças, pelo mundo, atirando-as à prostituição, ao trabalho escravo, à lixeira do sistema sem rede de proteção social que as emancipe. A Palestina, histórica, foi incorporada a Roma, durante o reinado de Herodes; quando nasceu Jesus Cristo, e as revoltas dos judeus foram se consumando em diásporas judaicas. Essa região é o berço do monoteísmo – judaísmo e cristianismo – e, depois, o islamismo. Com o Islã – Meca –, os árabes sentiram a importância da Palestina, como ponto estratégico – África, Ásia –, dando início às lutas entre cristãos e muçulmanos, Guerra Santa e as Cruzadas. Jerusalém foi palco das lutas até cair sob o Império Otomano – muçulmano –, que controlou a região até 1918, quando os ingleses a ocuparam. Durante séculos os palestinos se mantiveram na região e conseguiram manter a sua identidade. Os judeus espalhados pelo mundo, sem território, viviam na Europa, na Rússia, na Inglaterra, nos Estados Unidos e buscaram na fundação de um Estado a sua reintegração após o holocausto. Inicialmente, pensaram num estado judeu em Uganda, depois no monte Sion – daí sionismo –, mas prevaleceu a ideia do retorno à Palestina, de onde haviam saído em 135 d. C. Sendo criado, assim, o Estado de Israel – judeus – num mundo de árabes. Não sei como os palestinos abandonarão as pedras; as prefiro nas mangueiras, mas como disse o prêmio Nobel da Paz: “O sofrimento, estou convicto, não confere privilégio algum... tudo depende do que eu faço com o meu sofrimento”, também não sei o que os israelitas farão com a sua dor. (*) professor gilcaixeta@terra.com.br Gilberto Caixeta escreve às terças-feiras neste espaço