Notei a transformação já faz alguns anos, quando meu marido ainda era um “morador diário” em nossa casa.
Na conversa com algumas amigas que já vivenciavam a situação, ficava ponderando os prós e contras e muitas vezes sentindo uma pontinha de inveja. Parecia até uma eterna lua de mel!
A busca de melhores oportunidades financeiras tem feito casais se separarem durante a semana, ou até quinzenalmente, deixando o restante da família no lar que juntos construíram. Isso porque, na maioria das vezes, a mulher também contribui com a renda doméstica, os filhos já estão matriculados em escolas regulares, adaptados e felizes e não compensa trocar o certo pelo duvidoso.
Pois bem! Passado algum tempo, eis que me vejo na mesma situação e posso analisá-la sem espelho.
O romantismo desaparece por completo.
Quando os nobres guerreiros ou guerreiras (sim, porque agora também tenho visto mulheres que deixam o lar) retornam, há tantos problemas a serem discutidos, tanta carência de ambos, tanta necessidade de rotina, que o relacionamento acaba ficando “pesado”.
De repente você está dizend
– Ei, mas você adorava carne de porco!? Ei, mas agora você assiste TV no quarto?! Ei, mas você não lê mais a Bíblia para dormir?! Olha, preciso que você dê mais atenção ao fulano, ou à sua mãe, ou olhe para mim...
Cobranças tantas que a liberdade de viver sem a rotina massacrante de um casamento se perde. E lá se vai a lua de mel!
Esse é apenas mais um problema de nossa geração já tão sobrecarregada e transtornada com mudanças.
Os efeitos colaterais da rotina diária, tais como impaciência, desmotivação, desinteresse, se tornam ínfimos frente à perda do maior bem de um matrimônio bem-sucedid a cumplicidade.
Mas, espere! Não é o começo do fim de um sólido casamento de 36 anos! É apenas a constatação de que temos sempre que nos ajustar às mudanças. Elas são reais e inevitáveis. E quando sabemos aproveitá-las se tornam válidas e valiosas. Levam-nos a renovar conceitos, buscar alternativas, sair do marasmo. Rejuvenescem-nos e até nos fazem cantar...
“Por que me deixa tão solta?
Por que não cola em mim?
Tô me sentindo muito sozinha...
E se eu me interessar por alguém?
E se ele de repente me ganha?”
Socorro! Quero de volta meu desgaste rotineiro!