Os brasileiros, que já festejam várias datas cívicas, podem acrescentar outra comemoração ao calendário: 11 de fevereiro de 2010
Os brasileiros, que já festejam várias datas cívicas, podem acrescentar outra comemoração ao calendári 11 de fevereiro de 2010 – data do Início do Fim da Corrupção. Talvez os marqueteiros possam pensar um nome mais sutil para o aniversário da prisão de Roberto Arruda, um governador que, no exercício de seu cargo, sucumbiu à corrupção. Esse acontecimento não tem par na história brasileira, como atestam os estudiosos. Afinal, a mídia nacional noticia à exaustão locupletações com o dinheiro público em Brasília; políticos colocam dinheiro até nas próprias meias, tudo documentado e gravado. No caso de Arruda, não houve meias medidas e, sim, meias recheadas. A Polícia Federal continuou com as investigações. Embora CPIs fossem instaladas, diversos de seus membros estavam envolvidos também neste escândalo. Um deles é justamente o Presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal, que não foi nada prudente ao reassumir o posto, uma vez que era o homem das meias. A Justiça foi chamada a intervir, e a CPI da Corrupção sofreu expurgos. Ainda assim, como o governador tinha a maioria na Casa, tudo indicava que, apesar das pressões populares, a pouca-vergonha caminharia para a absolvição de todos os envolvidos. Apesar das provas contundentes, o jogo político era complexo. Eis que surge, então, uma circunstância agravante para o Governador de Brasília: ele manda subornar o jornalista Edson Sombra, que, se mudasse seu depoimento, afirmando que as gravações eram forjadas, inocentaria a todos. Embora a oferta de suborno chegasse a um milhão de reais, o jornalista recusou a proposta. Os primeiros duzentos mil que recebeu, numa negociação devidamente filmada, comprometeram irremediavelmente a situação do governador e seus parceiros. Afinal, aos crimes já cometidos, acrescentava-se mais um, o de sabotagem das investigações. Essa tentativa de obstruir a investigação levou a Procuradoria-Geral da República a pedir a prisão de Arruda. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) acatou o pedido, afastando o Governador de suas funções e decretando sua prisão. Em vista disso, o Governador se entregou à Polícia Federal. Seu advogado entrou com pedido de habeas corpus no Supremo Tribunal Federal (STF). Tudo como determinam os princípios legais. Há algum tempo o brasileiro tem observado o prende-e-solta de pessoas influentes; isso é o que se esperava também nesse caso. Porém, o ministro Marco Aurélio Mello, do STF, não acatou o pedido da defesa e manteve a prisão, confirmando o decreto exarado pelo ministro Fernando Gonçalves. Em atenção à relevância desse caso, o ministro Fernando Gonçalves, após lavrar o decreto de prisão, solicitou uma reunião com quinze magistrados do STJ para que referendassem o seu decreto. O resultado foi de 12 votos a favor e 2, contra o decreto. Quer dizer que, se o caso caísse nas mãos de um dos dois juízes contrários à prisão, o governador poderia permanecer em liberdade. Por sorte, podemos ter mais uma data cívica, comemorando o fato de um juiz ter resolvido por ordem na casa e determinar o princípio do fim da corrupção no Brasil. Muita água vai rolar por debaixo da ponte até que os corruptos sejam alijados do poder. Mas as primeiras gotinhas já respingam vitoriosas.