Luto e depressão
O luto é um estado de tristeza constante advindo após uma perda, seja de algo, alguém ou mesmo de um ideal, que foi investido afetivamente pelo sujeito, ou amado. O luto muitas vezes pode ser confundido com a depressão devido aos sintomas em comum, que sã desânimo profundamente penoso, afastamento do mundo externo, uma perda de sentido para a vida, uma perda momentânea da capacidade de amar, cessação de interesse por toda e qualquer atividade e mesmo pelas atividades comuns da vida cotidiana, alterações do sono e de apetite, nas quais muitas vezes há uma recusa consciente ou inconsciente do próprio sujeito em cuidar-se.
A depressão na maioria das vezes se diferencia do luto por um único quesit a autoestima. Diferentemente do luto, a depressão traz arraigada a si uma diminuição considerável do sentimento de autoestima a ponto de encontrar expressão em autorrecriminações, as quais o próprio sujeito pratica contra si, e muitas vezes acabam por culminar em uma expectativa delirante de punição.
Nem todos os sentimentos de luto podem culminar em um estado depressivo. É necessário que haja uma predisposição psíquica do sujeito que desenvolve a depressão. Essa predisposição consiste em um conjunto de fatores do próprio desenvolvimento da estrutura mental do sujeito, e isso envolve o desenvolvimento do sujeito em seu todo biopsicossocial.
É comum percebermos também que, nos casos de luto, o sujeito sabe o que foi perdido por ele, ou quem. E, na depressão, culminante do sentimento de luto, o sujeito muitas vezes pode saber o que se perdeu, porém, não se sabe o que perdeu nesse algo ou alguém que fora perdido, consiste, então, em uma perda de natureza ideal, na qual o sujeito muitas vezes tende a se confundir com o que foi por ele perdido, gerando uma relutância em aceitar a perda. Dessa forma, o próprio sujeito sente-se vazio, tendendo a desenvolver muitas vezes um delírio de inferioridade, de incapacidade e de intensa autocrítica.
No luto, após certo lapso de tempo, espera-se que o sujeito consiga restabelecer novos laços, novas relações e que seu mundo emocional alcance certo estado de equilíbrio, e julgamos até mesmo prejudicial uma intervenção medicamentosa nesses casos, pois é natural que o sujeito necessite de um tempo interno para se estabilizar.
Em ambos os casos, de luto e de depressão, o trabalho do psicólogo será de auxiliar o sujeito nesse momento de dificuldade interna, tratando o sofrimento psíquico da forma mais viável. Muitas vezes, o processo terapêutico visará a separação psíquica do sujeito com o que foi perdido e, nos casos de luto, auxiliá-lo no enfrentamento e na reestruturação de novos laços e investimentos afetivos ao mundo externo.
Larissa Cruz
Psicóloga
