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Leite de vaca: um alimento ideal no tratamento da osteoporose?

Dr. José Fábio Lana
Publicado em 26/04/2011 às 10:54Atualizado em 20/12/2022 às 00:39
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Existe uma crença geral, que eu classificaria até como “cultural”, de que o leite de vaca é a principal e melhor fonte de cálcio e que, portanto, seria o alimento mais indicado no tratamento da osteoporose, quando acontece a perda da massa óssea e o consequente enfraquecimento dos ossos. Entretanto, pesquisas recentes e vários alertas que partem de diversas comunidades científicas internacionais mostram-nos que o leite de vaca pode não ser tão eficaz como parece. E mais ainda: dependendo da quantidade ingerida, pode, até mesmo, ser prejudicial.

Para começar, vamos partir de um princípio básic qual a real função do leite em mamíferos? Nada mais evidente do que ser fonte de alimentos aos recém-nascidos. E isso a genética nos comprova: os recém-nascidos possuem uma enzima que sintetiza a lactose, o açúcar do leite. Esta enzima permanece no organismo até os 4 ou 5 anos de idade. E o problema em continuar a ingerir esse açúcar é que ele é demasiadamente grande para ser metabolizado pelo organismo mais adulto e requer a presença da enzima especial. Sem ela, o dissacarídeo não é “quebrado” e, portanto, não chega à nossa corrente sanguínea, transformando-se em fonte de energia.  

Mas aí vem um segundo questionament o leite não é altamente rico em cálcio, um mineral de extrema importância para o nosso organismo? Sim, mas em doses muito além do que, por exemplo, contém o leite humano (cerca de três a quatro vezes mais). Entretanto, já paramos para pensar de onde vem esse aporte de cálcio contido no leite bovino? Uma resposta simples: dos vegetais dos quais a vaca se alimenta. E não há fonte melhor e mais saudável de cálcio que os vegetais em geral.

As investigações sobre a composição leite de vaca não param por aí: o leite contém uma elevadíssima quantidade de proteína animal e gorduras saturadas. Pesquisas científicas nos revelam que esta mesma proteína animal afeta o metabolismo do cálcio, que é excretado através da urina ou utilizando para neutralizar a acidez do sangue provocada pela “chegada” da proteína.  Assim, de que adianta ingerir leite como fonte rica em cálcio e reduzir os níveis do mesmo mineral no organismo? Isso acontece por causa da proteína que é digerida e metabolizada simultaneamente.

A partir de todas essas descobertas é que se conseguiu entender o porquê de povos que consomem menos leite apresentarem uma taxa bem menor de osteoporose, ao passo que nas regiões onde o consumo de laticínios é alto, a doença continua atingindo um número cada vez maior de pessoas. Assim, pode-se deduzir que o leite de vaca não é, necessariamente, sinônimo de prevenção e cura para a perda de massa óssea.

É fundamental, por conseguinte, que tenhamos um pensamento mais crítico e seletivo sobre o que vale a pena ingerir para se garantir saúde. Pouca gente sabe, mas existem alimentos ricos em cálcio que podem desempenhar um papel muito mais benéfico para o nosso organismo. Os vegetais verdes de rama ou as algas marinhas possuem grandes propriedades nutritivas e quantidades de cálcio mais que suficientes para satisfazer as nossas necessidades diárias. Lembre-se: é mais importante a forma como consumimos o cálcio, a sua biodisponibilidade no organismo, ou seja, a sua capacidade de absorção, do que a quantidade propriamente dita.

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