ARTICULISTAS

Joaquim Barbosa – sinônimo: esperança

Quero falar hoje sobre o menino pobre

Terezinha Hueb de Menezes
Publicado em 14/10/2012 às 13:36Atualizado em 19/12/2022 às 16:53
Compartilhar

Quero falar hoje sobre o menino pobre que, a despeito de todas as intempéries existenciais, tornou-se o invejado por uns, odiado por alguns e admirado pelo Brasil: Joaquim Barbosa.

Todos os meios de comunicação – a Veja com matéria brilhante  - reconhecem a importância desse homem no resgate da esperança do povo brasileiro.

Saído dos anos de chumbo, ainda carregando o temor de respirar a liberdade, aos poucos o brasileiro se foi acostumando com um tipo inicialmente velado, depois escancarado e sem remédi a corrupção. Num novelo sem ponta, corruptores e corrompidos se mesclavam, muitas vezes a mando de superiores, outras debaixo de olhos poderosos que se faziam de cegos. E o dinheiro público escapulindo por todos os lados e de todas as formas. Com isso, o comprometimento dos bens sociais, a que o brasileiro tem sagrado direito. Saúde? Moradia? Educação? Segurança? Lazer? Tudo supérflu o importante era armar a teia da corrupção e fazer regurgitar os bolsos de poucos em detrimento da fome da maioria: fome de justiça, de esperança, de crença no ser humano, de alegria pelo respeito ao cidadão em seus direitos essenciais.

E eis que em meio a delações, a relatos surpreendentes pela sordidez, à incredulidade de muitos e ao espanto de quase todos, surge, ao final de processo lento, mas eficaz, a figura de Joaquim Barbosa, de certa forma destoando de alguns de seus pares pela coerência, honradez, intrepidez na avaliação e exposição de ideias, muitas vezes de forma até mesmo agressiva, talvez pela ânsia de fazer prevalecer a responsabilidade de quem, diante de laudas e mais laudas dos processos – 50.000 páginas – lidas, analisadas em suas minúcias, sentiu sobre os ombros a carga da responsabilidade extrema. Começava a degringolar o mensalão e seus envolvidos.

Nem as dores na coluna, nem o temor das reações adversas, nem mesmo – outro lado da situação – aplausos e reverências por onde passa, enfraqueceram em Joaquim Barbosa seu conceito de justiça isenta – o certo, certo; o errado, errado, sabendo, com clara firmeza, condenar os condenáveis e absolver aqueles cujas provas se mostravam insuficientes.

Ele – o menino negro e pobre, que, a despeito disso, conseguiu erguer-se ao topo cultural e do reconhecimento – com certeza guarda cicatrizes de preconceitos sofridos em sua trajetória de vida, de dificuldades para impor e demonstrar seu valor, de precisar enfrentar sorrisos e zombarias veladas. Mas, mesmo assim, conseguiu superar todas as vicissitudes, sem precisar utilizar-se do mecanismo de cotas raciais, demonstrando que o valor verdadeiro reside na pessoa.

Aplausos para Joaquim Barbosa, que soube despertar, em todos nós, a esperança de que é possível mudar pelos caminhos da ética, apesar dos desacertos que, por vezes, presenciamos nos poderes constituídos, inclusive no Judiciário. Mas há os bons; há os que tentam sempre acertar; há os que lutam por um país melhor, menos desigual em suas prioridades.

Como eu ficaria feliz se meu inesquecível Murilo aqui estivesse para aplaudir o grande Joaquim Barbosa, ambos – como tantos outros - com o mesmo ideal de fazer do Brasil um país mais justo e fraterno.

 

(*) Educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Logotipo JM Magazine
Logotipo JM Online
Logotipo JM Online
Logotipo JM Rádio
Logotipo Editoria & Gráfica Vitória
JM Online© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por