Há dois anos, em 30 de março, começou a comoção nacional gerada pela morte de Isabella de Oliveira Nardoni, então com cinco anos de idade
Há dois anos, em 30 de março, começou a comoção nacional gerada pela morte de Isabella de Oliveira Nardoni, então com cinco anos de idade. Desde o princípio, trabalhou-se com a hipótese de ela ter sido jogada da janela do apartamento por Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá, respectivamente, pai e madrasta da criança.
No fim da semana passada terminou o julgamento do caso, considerado rápido em relação ao usual, com o júri condenando ambos os réus. Alexandre recebeu pena de 31 anos, um mês e dez dias de prisão, devido ao homicídio, mais oito meses pelo crime de fraude processual. Anna Carolina, a pena de 26 anos e oito meses de prisão por causa do assassinato, além de oito meses por fraude processual.
O advogado de defesa, Roberto Podval, e os assistentes tiveram atuação brilhante. Contudo, o destaque coube ao promotor, Francisco Cembranelli, que explorou com muita competência a precisão dos resultados trazidos pelas minuciosas perícias. À defesa restou tentar desqualificar o trabalho feito pelos especialistas.
Utilizando-se de modernas técnicas e aparelhagem especial, foram refeitos os passos dos criminosos desde a chegada ao prédio onde moravam até o momento em que se aproximaram de Isabella, mortalmente ferida no solo. Como a reconstituição foi calculada segundo a segundo, não havia margens para contestação.
A precisão foi tamanha que os peritos mais pareciam testemunhas oculares do assassinato. Perceberam os indícios de que a menina fora maltratada ainda no carro, esganada no apartamento, jogada ao chão pelo pai, suspensa por fora da tela de proteção da janela e, para finalizar, atirada no vazio.
Enfim, já que não houve a confissão dos réus, admitindo o assassinato, a verdadeira história daquela noite fatídica foi contada pelas manchas de sangue da menina, pelas feridas em seu corpo, pelos registros das chamadas telefônicas e do GPS do automóvel, pelos sinais da rede na camisa do pai...
Acompanhamos um julgamento no Brasil, embora mais tenha se parecido com episódio daquelas séries americanas de investigação, em que os atores reviram o local do crime, levantando pistas quase imperceptíveis para os leigos: um fio de cabelo, uma mancha, um comportamento inexplicável por parte do suposto criminoso...
Alexandre e Anna Carolina nunca admitiram a culpa pela morte da criança, mas já podemos nos orgulhar dos nossos peritos criminais, que nada ficaram a dever aos colegas da ficção, pois são capazes de buscar nos detalhes os meios para incriminar os verdadeiros culpados. Isso ainda vai virar filme.
(*) membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro