Não sou uma aficionada pelo futebol. Mas respeito os que o são. Respeito os que vibram com a próxima Copa em nosso país.
Mas quando vejo, no Fantástico, a situação das escolas municipais nos estados de Alagoas, Maranhão e Pernambuco, não fico apenas triste, mas muito revoltada.
Revolta-me o gasto de R$ 7,1 bilhões (segundo consta), quantia que daria para construir e aprimorar um sem número de hospitais, um sem número de escolas, pagando adequadamente profissionais da Saúde e da Educação.
Revolta-me, mais ainda, a constatação de que as mazelas de nosso Brasil continuariam por tempo indefinido não fosse a interferência da mídia – seja televisão, jornal ou redes sociais: aí, quando se sentem descobertos e acuados, os responsáveis pelo sucateamento dos bens culturais se movimentam para tentar corrigir as falhas (imensas).
Para os que não viram a matéria, pensem em escolas que se encharcam quando chove. Pensem em professora que precisa dar aulas em sequência para alunos de diversas séries. Pensem em água contaminada. Pensem em cozinha com fossa e suspiro. Pensem em falta de carteiras e em ambientes de chão batido. Pensem em crianças que se levantam de madrugada, viajando de caminhão para depois pegar o ônibus rumo à escola. Pensem em alunos que utilizam o mato como sanitário, inclusive a professora. E querem que o país melhore o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano)? É querer demais! Enquanto isso, muitos dos políticos deitam e rolam em cima do dinheiro do povo. Enquanto isso, nos hospitais, faltam leitos, faltam aparelhos, faltam médicos, falta de tudo. Só não faltam os gemidos e a morte para os que não conseguem ser atendidos.
Como diria meu querido Murilo, é uma inversão total de valores. É a vaidade de alguns alucinados, sobrepondo-se às necessidades do povo.
Vendo toda essa situação, lembrei-me de parte do texto de Gerson Conrad e Vinicius de Moraes: “Pensem nas crianças / Mudas telepáticas / Pensem nas meninas / Cegas inexatas / Pensem nas mulheres / Rotas alteradas / Pensem nas feridas / Como rosas cálidas.”
No Brasil, não temos a bomba material de Hiroshima. Mas temos a bomba da corrupção, do desprezo pelos mais carentes, do esbanjamento e das mordomias com o dinheiro público, dos atos de roubar das crianças o presente e o futuro a que elas têm direito.
Que venha a copa balançando as redes e os corações. E que fique o rombo, principalmente na educação e na saúde, provocado pelas vultosas quantias que talvez pudessem ter resolvido a problemática tão degradante nessas duas áreas prioritárias para o crescimento do Brasil.
Terezinha Hueb de Menezes
Educadora do Colégio Nossa Senhora das Graças e membro da Academia de Letras do Triângulo Mineiro