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Ídolos de barro

Vi numa das revistas desta semana uma foto do cantor e dançarino Michael Jackson. Estava usando máscara. Seria medo de se contaminar?

Padre Prata
Publicado em 18/07/2009 às 20:30Atualizado em 20/12/2022 às 11:36
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Vi numa das revistas desta semana uma foto do cantor e dançarino Michael Jackson. Estava usando máscara. Seria medo de se contaminar?

Os jornais informam que ele tinha um medo estranho de doenças. Tinha medo da morte. Vivia perseguido pelo espectro da morte. Seu desejo inconsciente era viver para sempre. Não aceitava o envelhecer.

É significativo que seus sonhos tenham sido com a Terra do Nunca Mais. Sua mansão era a Never Never Land . A terra do viver para sempre. Quem sabe, no mais fundo de seu inconsciente, era atormentado pela maldade do Capitão Gancho? Provavelmente sonhasse com Sininho, a fada que viria protegê-lo. A fada boa, da eterna juventude. Assim como ela protegia Peter Pan, iria protegê-lo também. Michael Jackson queria viver para sempre, ser amado para sempre pelas crianças. Tomava quilos de remédio. Fez dezenas de operações plásticas. Queria ser jovem. Jovem e branco. Queria ser como Peter Pan.

Conheço pouca coisa de Michael Jackson. Quase nada. Apenas trechos. Eu o vi, às vezes, em shows na televisão. Mudava logo de canal. Não fazia meu gênero. Preferia a voz rouquenha de Louis Armstrong cantando What a Wonderful World.  Não existe a Terra do Nunca Mais de Disney, mas existe o Mundo Maravilhoso de Armstrong. Quanto aos requebros de Michael Jackson nunca me impressionaram. Prefiro Gene Kelly, no Cantado na Chuva. Ou então Fred Astaire. Não fui colocado por Deus numa terra sem fim, mas num mundo maravilhoso. Basta ter olhos para ver. Somos muito inclinados a ver apenas o que é feio, o que é mau, o que é monstruoso. Entre dez coisas que vemos, esquecemos as nove bonitas e nos impressionamos mais com a única que é feia. Por isso é que gostamos de ler nos jornais as notícias de crimes, de desastres, de assaltos, de comportamentos distorcidos. Não vemos mais o que é bom entre os homens, o que é belo no mundo que nos rodeia. O feio nos atrai.

Todos nós temos alguma coisa de Michael Jackson. Temos medo da morte. Temos medo de envelhecer. Não aceitamos totalmente o que nós somos, nossa fragilidade. Os medievais sonharam com o elixir da longa vida. Os faraós sonharam com a sobrevivência deles, os representantes de Deus. Grandes Papas tentaram se perpetuar construindo grandes mausoléus e baldaquinos imensos.  Ninguém quer morrer. Por isso corremos atrás de cirurgiões plásticos para que nos deixem mais jovens, mais longe da morte. E haja botox...

A única coisa que realmente existe e nos dá coragem são os braços do Pai, que nos aguarda no último degrau da escada. “Entre, meu filho, a Casa é sua”.  O resto é pura ilusão.

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