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Humildade e atitude

Todos fomos tomados de surpresa com a revelação de Bento XVI: iria afastar-se e ceder lugar a um novo papa...

Terezinha Hueb de Menezes
Publicado em 17/02/2013 às 16:05Atualizado em 19/12/2022 às 14:40
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Todos fomos tomados de surpresa com a revelação de Bento XVI: iria afastar-se e ceder lugar a um novo papa.

Sua expressão sofrida, a cabeça sempre pendida para a frente, como se o peso dos pensamentos, culminados com decisão tão inesperada, os olhos parecendo ainda mais fundos, tudo isso impressionou quem o viu pela TV.

O último papa a tomar tal decisão o fez há 600 anos. Vimos João Paulo II, quase um moribundo, segurando o papado sob os olhares de consternação de todos que o viam a cada dia mais debilitado. Morreu cumprindo sua difícil missão.

Na cabeça de todos: o que teria levado Bento XVI a tomar tal atitude?

Costumo sempre dizer que o universo interior é único em cada ser humano. Seja uma pessoa comum, seja um presidente da república, seja um papa.

Ninguém sabe o real ou reais motivos que levam o ser humano a determinadas decisões. Mesmo sendo um papa. Mesmo sabendo do turbilhão de indagações que iriam assoberbar o mundo.

Alguém comentou comigo sobre a mania que todos nós temos de buscar motivos, cobrar respostas, exigir explicações, diante de determinadas atitudes do outro. E, pior, julgar, muitas vezes e quase sempre, condenando e comparando com situações anteriores. E não é apenas com pessoas ilustres, como o papa, o presidente da república, um governador. É com qualquer um, mesmo no âmbito familiar ou de amigos. Há uma necessidade quase anormal de avaliar os atos alheios; menos os nossos: esses são apenas nossos, ninguém tem nada com isso.

Quanto a mim, é com admiração que olho para a face sofrida de Bento XVI. Admiração por imaginar sua tortura interior, até chegar ao desfecho inesperado. Com certeza, noites insones, turbilhão de pensamentos desencontrados, o fiel da balança: a dúvida sobre o que seria melhor ou pior: sair ou permanecer? E chegar a uma decisã ainda, com certeza, molhada a lágrimas de sangue.

E novamente, penso, sem querer julgar – isso só compete a ele próprio e a Deus: não se trata de nenhuma atitude covarde; ao contrário, é muita coragem, e humildade ainda maior, sair do cenário do poder superior e ceder o lugar a outro, talvez na ânsia de que se fortaleça, com isso, o bem da Igreja, que ele ama, mais que tudo na vida. (Meu Deus, estaria eu julgando?)

A nós, católicos, resta rezar por ele e pedir ao Pai que lhe dê alento na dolorosa decisão cujos motivos apenas o íntimo de sua alma conhece. E que o peso da cruz  - que lhe devia estar ferindo os ombros - se torne mais leve e aceitável. Amém!

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