Amigos, hoje, homenageando nosso querido Monsenhor
Amigos, hoje, homenageando nosso querido Monsenhor Juvenal Arduini, apresento-lhes uma colagem, por mim elaborada, a partir de seu livro Destinação Antropológica, em 1989: são passagens poéticas, pinçadas do texto. Simplesmente fui agrupando umas ideias a outras, todas extraídas textualmente do livro, apenas por mim articuladas, com elementos de conexão. Nela está o cerne do pensamento humanista do grande filósofo e antropólogo, Monsenhor Juvenal Arduini, com sua alma inquieta, em favor dos oprimidos.
Terezinha Hueb de Menezes
AMANHECER DO MUNDO IRMÃO
(Pensamentos de Monsenhor Juvenal Arduini)
“Ainda há esperança porque a história não terminou.
Há um clamor surdo, clamor que profetiza um mundo novo.
A história tem crepúsculos (mas) tem também madrugadas.
Ainda há caminhos (que saciem) a fome revolucionária dos famintos (e seus) retalhos de vida, violência silenciosa que vai minando, consumindo energias, dobrando resistências, esfarinhando esperanças.
Há caminhos, pois o homem é o acontecer, o andamento histórico que se destina na liberdade, (carregando) o verbo da vida sofrida e da liberdade martelada, do pranto que soluça no sangue e no desespero que uiva nos ossos da humanidade; humanidade que chora e se contorce porque ferida pela injustiça, mas humanidade que canta e baila porque suas aspirações madrugam nas estradas da história e clamam pela vida, pelo pão, pelo espaço, pelos irmãos.
Ainda há esperança porque a história não terminou.
A profecia histórica liberta os homens das seculares senzalas, onde o estalo dos chicotes se mistura aos soluços dos explorados e às lágrimas dos necessitados.
Onde a esperança dos desempregados, dos marginalizados, dos neo-escravizados, dos povos tiranizados pela dependência?
A des-destinação encheu de lágrimas e sangue o chão da história.
(Mas) havemos de clamar que o homem é maior que seus problemas, que a liberdade é mais audaciosa que a servidão, que a justiça é mais radical que a desigualdade, que as carências do povo devem antepor-se aos privilégios de grupos,
que um mundo justo e fraterno ainda é factível, que a esperança não desiste de caminhar (para que se combata) a morte do homem. Morte do homem porque estraçalhado pela violência, silenciado pelos poderosos, rasgado pelo antagonismo de classes. Morte do homem desencadeada pela subnutrição crônica, pela desigualdade social, pelo empobrecimento progressivo de grupos e nações. Morte do homem porque desempregado e mal-remunerado, sem poder vestir-se, educar-se, alimentar-se, curar-se e defender-se. Morte do homem porque a fé se apagou, o amor esfriou,
a esperança desabou, a fidelidade desertou. Morte do homem porque a individualidade dilacerou a solidariedade, o rancor apunhalou a fraternidade, a injustiça sepultou a igualdade.
Ainda há esperança porque a história não terminou.
A nova humanidade nasça do amor.
No princípio era o amor. E no fim será o amor. Amor a serviço da vida para que a humanidade se liberte do ódio, da dominação, da desigualdade, da miséria, da desnutrição, e alcance níveis de existência em que todos os homens possam vestir o corpo, colocar o pão na mesa, escolher caminhos, pronunciar a verdade, acatar a dignidade, defender o inocente, cantar a alegria e louvar a Deus, evangelizando as mãos para que anunciem a paz.
Se nas mãos houver lágrima, seja a lágrima dos sofredores que foi enxugada.
Se nas mãos houver gota de sangue, seja o sangue perseguido que foi defendido.
Se nas mãos houver desespero, seja o clamor do povo pobre que foi escutado.
Se nas mãos houver semblante, seja a face dos irmãos que foi recolhida. Se nas mãos houver sombra, seja a silhueta de Cristo, que acompanha os peregrinos.
É hora de partir e não de ficar.
Vamos partir para o amanhecer do mundo irmão. Vamos partir para a emancipação do povo pisado. Vamos partir para a gênese da sociedade justa.
E algo de novo poderá acontecer na história.
É hora de partir e não de ficar. Partir com o destino nas mãos. Se tombarmos na estrada, outros completarão os passos que não pudemos terminar.
Ainda há esperança porque a história não terminou.
Ainda há esperança.”