Estimado leitor, volto ao tema da História Local. Em algumas oportunidades, relatei episódios da história da nossa cidade e região, tendo como pano de fundo a metodologia desenvolvida pelos historiadores do Local. Em outras oportunidades, discuti os elementos teóricos que sustentam essa abordagem.
Em virtude dessas discussões, ouço muito as seguintes perguntas: qual a diferença entre estudar História e estudar História Local? Não é tudo História? Não, não é.
A história tradicional ocupava-se de grandes personagens, de fatos importantes da vida pública e política das sociedades humanas. Uma das grandes conquistas da historiografia contemporânea foi ter se voltado para o homem comum, para a vida cotidiana, para o universo aparentemente banal dos desejos, aspirações e pensamentos dos seres humanos em diferentes sociedades e épocas.
Nas últimas décadas, sobretudo por influência da historiografia francesa, proliferaram estudos sobre a vida diária, sobre o cotidiano, sobre aquilo que, aparentemente sem importância, interfere na vida de cada um de nós, com tanta ou até mais intensidade, que os grandes eventos políticos.
A valorização da História Local, entretanto, é tão nova quanto a própria redemocratização do País, já que, em tempos "generalescos", a mesma era vista com restrições. Era constante a vigilância para que os regionalismos não aflorassem com gritos de liberdade, afrontando o regime vigente.
Estudar a História Local é, na verdade, a oportunidade de resgatar um passado ainda pulsante nas microssociedades, é valorizar o conhecimento popular através do método historiográfico-científico, conferindo credibilidade às tradições de pouco registro e até mesmo aos testemunhos orais.
Na História Local, destaca-se a valorização do indivíduo, que recupera sua autoestima, e torna-se mais participativo e útil a toda comunidade.
A importância do estudo da História Local está, portanto, na tentativa de fazer com que o sujeito valorize a historicidade de sua comunidade e, de mostrar aos que fazem a história o quanto seu papel é importante, pois, na historiografia tradicional, não existe espaço para os anônimos.
Como um exemplo claro dessa valorização, podemos citar o sucesso dos dois artigos escritos pelo nosso eterno Tio Mário, nos quais ele contou, aqui mesmo no JM, um pouco da história do seu programa Roda Gigante.
Desmistificar a falsa ideia de que História se faz apenas em grandes feitos, protagonizados pelos grandes heróis, é um dos mais importantes objetivos a serem alcançados pela História Local. Parafraseando o filósofo iluminista Voltaire: interessa aos historiadores investigar quem costurou a roupa do rei.
Um excelente domingo de Páscoa para todos!
(*) doutorando em História e professor do Colégio Cenecista Dr. José Ferreira e da Facthus