ARTICULISTAS

Há sempre uma pedra no caminho

Tempo de eleição é sempre um tempo de turbulência. Passeatas, comícios, falatórios

Padre Prata
thprata@terra.com.br
Publicado em 06/11/2010 às 19:49Atualizado em 20/12/2022 às 03:22
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Tempo de eleição é sempre um tempo de turbulência. Passeatas, comícios, falatórios, muita bandeira, retratos, autoelogios. Tudo passa. Também desta vez tudo passou. Nem tudo. Ficou tristeza no coração de quem perdeu. Nem tudo saiu como alguns queriam. A vida é assim. Momentos de felicidade e de desgosto se misturam na caminhada.  “Há uma pedra no meio do caminho” (Vocês se lembram de Carlos Drummond de Andrade?). 

Não existe ninguém que não queira ser feliz. Ninguém gosta de perder. Muitas vezes me surpreendo vendo os passantes. Todos com pressa. Todos correndo atrás de alguma coisa. Ninguém corre à-toa. Corremos atrás de um objetivo que satisfaça uma necessidade. Emprego, alimentação, remédio, distração, igreja, amigos, doentes. Não importam as “pedras” no caminho. O importante é realizar um desejo, um objetivo. O pior é que, resolvido esse problema, retirada essa ´”pedra”, aparece outra. Nunca estou definitivamente satisfeito, sempre me falta alguma coisa. O homem é um animal que procura. Procura e sofre. Daí a indagação milenar: sofre por quê? Sofremos porque somos dominados por desejos. Principalmente o desejo de “ter”. O desejo de posse é o mais violento de todos os instintos. Muito mais forte e perigoso do que o instinto sexual.

Leon Bloy, escritor católico francês, escreveu algo de profunda sabedoria: “Sofrer passa, ter sofrido não passa nunca.”  A ferida se cura, a cicatriz permanece para sempre. A lembrança do sofrimento não termina nunca. O fundador do Budismo, Sidarta Gautama, afirmava que o desejo nos leva todos ao sofrimento. A falta de alguma coisa sempre nos machuca interiormente. Pior quando perdemos algo que nos fazia felizes. Pode ser uma pessoa, uma amizade, um amor, um objeto. O pobre sofre porque não sabe o que vai comer amanhã,  de não “ter” o que comer. O rico sofre porque não sabe se, amanhã,  será o dono de seu “ter” de hoje, se será roubado, assaltado ou prejudicado em seus ganhos. O medo de perder atinge a todos nós. Dói no fundo do coração de cada um de nós.  O desejo gera o medo e o medo nos faz infelizes.

O filósofo cristão, Emmanuel Mounier, afirmava que a nossa civilização moderna se caracteriza pelo consumismo e pelo medo. Queremos adquirir tudo o que aparece e nos aterrorizamos pelo medo de tudo perder. Consequentemente, é uma civilização neurotizante. O medo nos deixa inseguros, apressados, agressivos, irritados, incapazes de perdoar, desequilibrados, tristes, profundamente infelizes.

Vez por outra deveríamos perguntar-nos:  nossas tristezas, nossos medos, nossas tensões, veem de fora ou de dentro de nós mesmos? Os resultados das eleições nos deixaram felizes ou infelizes?  Pelo sim ou pelo não, quais foram os motivos?

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